domingo, 29 de julho de 2012
terça-feira, 17 de julho de 2012
Inscrições para novos cursos dentro da Escola Livre de Literatura
A Casa da Palavra abre inscrições para novos cursos dentro da Escola Livre de Literatura. Para maiores informações visite o blog: casadapalavrasa.blogspot.c
Inscrições pelo telefone: 4992-7218 ou 4427-7701
• Kafka, Saramago e Trevisan - com Flávio Mello
Terças-feiras – das 19 h as 21 h
Início – 07 de agosto
• Panacéia Literária – com Vanessa Molnar e Rosana Banharoli
Quartas-feiras – das 19 h ás 21 h
Início – 01 de agosto
• O Olhar poético sobre o urbano - com Edson Bueno de Camargo
Quintas-feiras – das 19 h as 21 h
Início – 02 de agosto
• Círculo de Estudos Literários
Quintas-feiras – das 19 h as 21 h
Início – 02 de agosto
Local: Praça do Carmo, 171, Centro – Santo André, SP.
Contato: 4992-7218
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Carta aos Capadócios - prosa poética
Carta aos Capadócios.
Uma vez ouvi,
já não me recordo de quem, que cada pessoa é uma biblioteca pessoal e
intransferível, que carrega informações sobre o seu tempo e os lugares que
passou, mas também acredito que todos levamos como bagagem um fabulário próprio,
além das experiência vividas, trazemos em nossa alma, as experiências não
vividas, mas sonhadas. Quantos de nós,
não tem sempre uma história na ponta da língua, contada por nossas avós
enquanto teimávamos em não dormir. Lembro as histórias de fantasmas e lobisomem
de minha avó paterna, que esta cria com convicção e que por muitos anos,
fizeram também parte de minha realidade.
Escrever um
livro é uma forma sempre incompleta de tentar trazer esta biblioteca pessoal
para fora, para o mundo exterior além de nossa mente. Mas é uma tarefa
inglória, pois sempre estamos fazendo isto, escrevendo e escrevendo, em uma
roda tão infindável como a roda da vida indiana. O verso sempre será
incompetente, e necessitará de um novo verso, assim vamos compondo um hino
infinito, uma ode a nossas memórias que falseiam, misturando alhos com
bugalhos, mentindo desbragadamente para
preencher as lacunas que aparecem.
Ao ler as páginas de Caio Evangelista, sinto como se tivesse ouvindo uma bela história, destas fábulas maravilhosas, que se contam ao redor das fogueiras desde o neolítico. Sinto que de uma certa forma o mundo imaginário é o lugar de experimentação de nossas angústias cotidianas, para enfrentar nossas “montanhas que andam”, necessitamos de um mago guia que nos conduza pelas incertezas da vida, para que não façamos um voo cego e inexato.
Ao mesmo
tempo encontramos um jovem em plena vitalidade e inocência fazer a jornada do
herói, de experimentar o êxtase e ao
mesmo tempo a dor. De encantar lobos e mulheres. De aprender que a inocência é a moeda que se paga pela
sabedoria. Que nossos aliados, também podem ser nossos inimigos, e que o maior
adversário que podemos ter na vida, pode ser nós mesmos.
Na narrativa
a travessia do deserto está dentro de nossas almas e o elemento água está
presente a todo tempo, as moedas simbólicas de ouro, as faces transcendentes
destas moedas, os traços e linhas simbólicas que permeiam o texto. E ao mesmo
tempo a magia simpática do contato com a natureza e as coisas prazerosas como mangas maduras, banhos de rio (muitos
banhos em um rio de nossas infâncias) e ouvir a natureza em seu íntimo. Ao
mesmo tempo saber dos perigos que rondam o tempo todo o paraíso. Saber que tudo
tem os dias contados, início e fim, e um eterno retorno ao ponto de origem.
O livro
também é uma marcha para dentro de si mesmo, do encontrar suas raízes, suas
origens, sua identidade, pois somos filhos de muitos pais e muitas mães, cada
um que de forma generosa ou mesquinha contribuiu para sermos o que somos. Que
as vezes é preciso buscar no estrangeiro, ou na Capadócia, as repostas que
sempre trazíamos conosco.
Por fim me
lembro do poeta Cláudio Willer falar que uma boa prosa tem de ter elementos de
poesia e de poético, senão ficará seca e árida. Não falta poesia no texto de
Caio, este muitas vezes mergulha direto na poesia, na linguagem cifrada dos
bons poemas, que caminham sobre os signos e símbolos da palavra, trabalhar a
ideia de que a poesia é uma coisa viva e criadora.
Mergulhemo-nos
portanto nas palavras dos poetas cegos ao mundo, porque não podem ver mais que
poesia, em cavalos mágicos e santos guerreiros, São Jorge de manto vermelho e
sua lança fincada na cabeça do dragão e com a ponta no chão, a nos dizer que
somos ligação do elemento céu e terra, que o humano é em seu intimo divino.
Edson
Bueno de Camargo
Poeta,
pedagogo, haikaista bissexto, fotógrafo empírico.
Mauá,
07/03/2012
Carta aos Capadócios - prosa poética (Lua, Céu, Terra e Mar) - Caio Evangelista - RG Editores - São Paulo - SP - 2012
sábado, 7 de julho de 2012
Na minha cidade tem poetas, poetas,
É absolutamente incrível como o
modo de se cantar uma canção pode nos influenciar em sua interpretação, é como
se o cantor pudesse imprimir sua alma no canto. O som da voz humana dotado de
harmonia, já foi acreditado como criador de universos, os deuses criadores, são
descritos como de bela voz, ou virtuoses em seus instrumentos musicais. Tupã é
o grande som primordial, Shiva com seu tambor e sua dança alucinada, e assim
todas as culturas de uma certa forma tem no mito criador, o som.
Outro dia na Biblioteca Cecília
Meireles, no encerramento do Projeto Literatura Viva em Mauá, ouvi o grupo
musical Canto Livro, que interpretou diversas canções cujo eixo norteador era a
literatura e principalmente a poesia. A primeira canção interpretada pela
cantora Joana Garfunkel foi uma música que há muito tempo já a tinha ouvido,
mas esquecido completamente, e o modo com que a cantora deu sua cor, despertou-me
curiosidade, de querer saber mais sobre
aquela melodia, e em especial pela letra, que fala do ofício de poetar, com uma
certa ironia.
Após uma pesquisa, descobri que a
música original era do uruguaio, Leo Masliah e que a versão original era muito
mais irônica, quer pela interpretação, ou mesmo com algumas palavras muito
duras aos poetas. O tom é a galhofa, resumindo os poetas como uma classe de
chatos, dos que vendem livros no vão livre do MASP, ou algo parecido que deve
ter em Montevidéu. Quem nos salva é Milton Nascimento, que mesmo mantendo a
letra de Masliah, dá um tom melodioso à canção, salvando os poetas de seus
pecados, em uma suavidade e caminho ao sublime. Mais tarde Milton vai
interpretar uma versão em português, de Carlos Sandroni, onde grande parte do
escárnio de Masliah se dissolve, cria-se uma fina ironia, onde havia uma clara irritação.
O interessante é que mesmo Leo Masliah, mostra em sua letra uma íntima proximidade com o ato de escrever poesia, há momentos que soam como piada interna, que os poetas rirão mais do que os não afeitos aos processos do poema. Soa como se o autor de uma certa forma ria de si mesmo. Ser poeta é em si um contra-senso, uma criatura presa entre a inventividade humana que se materializou em tantas construções técnicas e uteis, e o poeta põe esta mesma inventividade à serviço do inútil e do incerto. O poeta incomoda o prático, o pragmático e o racional, ou algo que funcione ou tente funcionar como tal.
O interessante é que mesmo Leo Masliah, mostra em sua letra uma íntima proximidade com o ato de escrever poesia, há momentos que soam como piada interna, que os poetas rirão mais do que os não afeitos aos processos do poema. Soa como se o autor de uma certa forma ria de si mesmo. Ser poeta é em si um contra-senso, uma criatura presa entre a inventividade humana que se materializou em tantas construções técnicas e uteis, e o poeta põe esta mesma inventividade à serviço do inútil e do incerto. O poeta incomoda o prático, o pragmático e o racional, ou algo que funcione ou tente funcionar como tal.
Outra grande malandragem de
Sandroni, é mudar a ordem de alguns versos, de tal forma com que o arranjo das
palavras crie uma atmosfera menos irritante das posturas dos poetas, na versão
original, os poetas incomodam, na versão em português há uma visão mais sublime
que histriônica.
Em minha experiência de escrever
poemas e tentar fazer com que as pessoas os leiam, passei por diversas fases,
até chegar no momento impreciso que chamamos de maturidade, em que deixamos de
crer no proselitismo em que todo crente fanático em alguma coisas por vezes se
mete. Existem pessoas que parecem que esta maturidade ou sanidade nunca chega,
paro às vezes para pensar se não são estes loucos e chatos, que insistem em ler
seus versos em enterros, casamentos e em toda a oportunidade que eles acham ser
conveniente. A crença na certeza
absoluta desveste o ridículo. E toda a cidade tem estes poetas. Alguns se dão
bem, viram quase oficiosos, presentes em todas as manifestações. Mas temo que quanto mais tendem à aparecer
menos poéticos se tornam, e mais afastados da literatura e da arte ficam. Fico
a imaginar se Masliah fala especificamente destes poetas, ou se para ele todos
os poetas estão nesta categoria. Sendo o cantor e humorista uruguaio, uma
espécie de Platão a expulsar todos os poetas da República. Ao meu turno, penso
os humoristas como uma espécie de vigilantes do comportamento aberrante,
sugerindo no fundo de suas piadas um certo conservadorismo, aplicadores de um
fator punitivo contra aqueles que se comportam mal.
O que separará os conhecidos e
importantes, os cânones, os esquecidos, será o tempo, e a possibilidade de
sermos lidos. Sempre haverá um livro perdido no fundo de um sebo que despertará
um novo poeta, que começará tudo de novo. Há inúmeras histórias para serem
contadas e descobertas.
O certo é que ao longo da
história das civilizações, sempre aparecem
poetas, contadores de histórias, cantores de arengas aos deuses e santos, perseguidos
e mortos, ou carregados nos braços do povo, moradores das prisões ou dos
palácios, com estátuas nas praças ou mendicantes nas pontas das feiras. Toda
cidade tem seu ou seus poetas, quase sempre desacreditados ou evitados, ou não,
sempre aparecendo nas casas nas horas da refeição, sempre com um livro pronto
debaixo do braço, sempre dispostos a lerem seus poemas, querendo as pessoas
ouvirem ou não.
O certo que mesmo o mais humilde
dos poetas está eivado do sublime, carregam o sagrado das palavras. E uma
canção, mesmo feita para escarnecê-los, será uma justa homenagem. O riso também
dá conta do sublime.
Guardanapos de Papel
(tradução e versão de
Carlos Sandroni)
Na minha cidade tem poetas, poetas,
Que chegam sem tambores nem trombetas, trombetas,
E sempre aparecem quando menos aguardados, guardados, guardados,
Entre livros e sapatos, em baús empoeirados.
Saem de recônditos lugares no ares, nos ares,
Onde vivem com seus pares seus pares, seus pares,
Seus pares e convivem com fantasmas multicores, de cores, de cores,
Que te pintam as olheiras e te pedem que não chores
Suas ilusões são repartidas partidas, partidas,
Entre mortos e feridas, feridas, feridas,
Mas resistem com palavras, confundidas, fundidas, fundidas,
Ao seu triste passo lento pelas ruas e avenidas.
Não desejam glorias nem medalhas, medalhas, medalhas,
Se contentam com migalhas, migalhas
Migalhas de canções e brincadeiras com seus versos dispersos, dispersos,
Obcecados pela busca de tesouros submersos.
Fazem quatrocentos mil projetos, projetos, projetos,
Que jamais são alcançados cansados, cansados,
Nada disso importa enquanto eles escrevem, escrevem, escrevem,
O que sabem que não sabem e o que dizem que não devem.
Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas,
Como se fossem cometas, cometas, cometas,
Num estranho céu de estrelas idiotas e outras, e outras,
Cujo brilho sem barulho veste suas caldas tortas.
Na minha cidade tem canetas, canetas, canetas,
Esvaindo-se em milhares, milhares,
Milhares de palavras retorcidas e confusas, confusas, confusas,
Em delgados guardanapos, feito moscas inconclusas.
Andam pelas ruas escrevendo e vendo, e vendo,
Que eles vêm nos vão dizendo, dizendo,
E sendo eles poetas de verdade enquanto espiam e piram, e piram,
Não se cansam de falar do que eles juram que não viram.
Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas,
Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas,
Lançadas ao espaço e o mundo inteiro, inteiro, inteiro,
Fossem vendo pra depois voltar pro Rio de Janeiro.
Biromes Y Servilletas
(Leo Masliah)
En Montevideo hay poetas, poetas, poetas
Que si bombos ni trmpetas, trmpetas, trompetas
Van saliendo de recónditos altillos, altillos, Altillos
De paredes de silencios, de redonda con puntillo
Salen de agujeros mal tapados, tapados, tapados
Y proyectos no alcanzados, cansados, cansados
Que regresan fantasmas de colores, colores, colores
A pintarte las ojeras y pedirte que no llores
Tienen ilusiones compartidas, partidas, partidas
Pesadillas adheridas, heridas, heridas
Cañerias de palabras confundidas, fundidas, fundidas
A su triste paso lento por las calles y avenidas
No pretenden glorias ni laureles, laureles, laureles
Sólo pasan a papeles, papeles
Experiencias totalmente personales, zonales, zonales
Elementos muy parciales que juntados no son tales
Hablan de la aurora hasta, cansarse, cansarse
Si tener miedo a plagiarse, plagiarse, plagiarse
Nada de eso importa ya mientras escriban, escriban, Escriban
Su mania su locura su neurosis obsesiva
Andan por las calles los poetas, poetas, poetas
Como si fueran cometas, cometas, cometas
En un denso cielo de metal fundido, fundido, fundido
Impenetrable, desastroso, lamentable y aburrido
En Montevideo hay biromes, biromes, biromes
Desangradas en renglones, renglones, renglones
De palabras retorciéndose confusas, confusas, confusas
En delgadas servilletas, como alchólicas reclusas
Andan por las calles escribiendo, y viendo y viendo
Lo que vem lo van diciendo y siendo y siendo
Ellos poetas a la vez que se pasean, pasean, pasean
Van contando lo que vem y lo que no, lo fantesean
Miran para el cielo los poetas, poetas, poetas
Como si fueran saetas, saetas, saetas
Arrojadas al espacio que un rodeo, rodeo, rodeo
Hiciera regresar para clavarlas en Montevideo
Que si bombos ni trmpetas, trmpetas, trompetas
Van saliendo de recónditos altillos, altillos, Altillos
De paredes de silencios, de redonda con puntillo
Salen de agujeros mal tapados, tapados, tapados
Y proyectos no alcanzados, cansados, cansados
Que regresan fantasmas de colores, colores, colores
A pintarte las ojeras y pedirte que no llores
Tienen ilusiones compartidas, partidas, partidas
Pesadillas adheridas, heridas, heridas
Cañerias de palabras confundidas, fundidas, fundidas
A su triste paso lento por las calles y avenidas
No pretenden glorias ni laureles, laureles, laureles
Sólo pasan a papeles, papeles
Experiencias totalmente personales, zonales, zonales
Elementos muy parciales que juntados no son tales
Hablan de la aurora hasta, cansarse, cansarse
Si tener miedo a plagiarse, plagiarse, plagiarse
Nada de eso importa ya mientras escriban, escriban, Escriban
Su mania su locura su neurosis obsesiva
Andan por las calles los poetas, poetas, poetas
Como si fueran cometas, cometas, cometas
En un denso cielo de metal fundido, fundido, fundido
Impenetrable, desastroso, lamentable y aburrido
En Montevideo hay biromes, biromes, biromes
Desangradas en renglones, renglones, renglones
De palabras retorciéndose confusas, confusas, confusas
En delgadas servilletas, como alchólicas reclusas
Andan por las calles escribiendo, y viendo y viendo
Lo que vem lo van diciendo y siendo y siendo
Ellos poetas a la vez que se pasean, pasean, pasean
Van contando lo que vem y lo que no, lo fantesean
Miran para el cielo los poetas, poetas, poetas
Como si fueran saetas, saetas, saetas
Arrojadas al espacio que un rodeo, rodeo, rodeo
Hiciera regresar para clavarlas en Montevideo
terça-feira, 3 de julho de 2012
Impressões sobre CARNE – PATRIARCADO E CAPITALISMO - da Kiwi Companhia de Teatro
No dia 29 de junho de 2012 (uma sexta-feira),
no Centro de Formação de Professores
Miguel Arraes, em Mauá/SP assisti a peça - CARNE – PATRIARCADO E CAPITALISMO -
da Kiwi Companhia de Teatro à convite de uma das atrizes, Mônica Rodrigues. Conheci
a Mônica em uma das oficinas da Escola Livre de Literatura, época em que ela
ministrava uma oficina em que
misturávamos leitura e delírio. Produzi
muito naquele período, muitos poemas, escrevi um livro de crônicas que se encontra engavetado,
efetuado em forma de semanário, relatando aleatória e alegoricamente os
acontecimentos presentes, acontecidos e os
não materiais das oficinas.
Na espera para entrar para assistir a peça, um certo deslocamento e uma sensação de hostilidade, a peça apesar de aberta ao público, estava sendo encenada em especial para as formandas em um curso de PLPs, Promotoras Legais Populares, ligadas à Defensoria Pública, para trabalharem como mediadoras em caso de violência à mulher. O tema norteador da peça de teatro apresentada era exatamente a questão da violência contra a mulher e suas implicações e interações com o sistema capitalista. Um auditório lotado de mulheres com todas as razões para terem desconfiança de homens, e eu um dos pouquíssimos homens a assistir a peça. Tive a sensação de que se o público entrasse em catarse, eu seria picado e devorado, mas felizmente isto não ocorreu, e a desconfiança original até que se transmutou em um certa simpatia, não muita, mas alguma.
A apresentação já começa na forma como entramos na platéia, em muitos lugares objetos ditos do cotidiano feminino, escorredores de arroz, mamadeiras, escovas, tábuas de carne e uma infinidade de badulaques, devíamos conservar tais objetos em nossas mãos até o princípio dos trabalhos, que sem percebermos já estava acontecendo, com as atrizes interagindo com o público, solicitando os objetos, que iam sendo incorporados à cena inicial. O tempo todo tudo ocorre dentro de uma metalinguagem explicita, é impossível, em determinados momentos, não estarmos com os olhos em lágrimas, dado a crueza dos relatos, das imagens, dos textos. Uma impressão de engasgo e sufocamento o tempo todo.
Acontece uma interação com imagens projetadas em uma
tela, símbolos semióticos, colagens de textos, imagens de guerra, vamos
incorporando os personagens, as tragicomédias, os risos nervosos, os absurdos
cometidos contra o gênero feminino, e que no entanto, nos são apresentados como
normalidades. Lembro em certo momento de Brecht que em um poema nos alerta para
desconfiar das coisas que se mostram imutáveis e consolidadas.
“Nada deve parecer impossível de mudar.”
Senti-me suavemente agredido,
explico, a peça é uma imersão em nossos preconceitos pessoais e de como a
violência contra a mulher está introjetada em nossa cultura. E portanto, também
estou profundamente agradecido. Há momentos de profunda revolta e nojo, de como
inserções comerciais são reprodutores da violência verbal e institucional
contra a mulher. Feminicído, misoginia e outras coisas nos vem o tempo todo na
mente. O texto é muito bem montado e percebe-se um fantástico trabalho de
pesquisa, percebemos que apesar de vivermos doze anos avançados no século XXI,
pesadas obrigações e preconceitos pesam sobre a mulher, e que apesar de muitos
avanços, o capitalismo se apodera do patriarcado para repetir os mesmos
conceitos do passado.
Tenho uma formação humanista, e até onde isto é possível, uma postura feminista, e mesmo assim tive a oportunidade de imergir em minhas raízes geracionais, e perceber o quanto somos criados e programados para repetir certos comportamentos, como certas “piadas” na verdade são alertas para aquelas que estão saindo do comportamento “adequado”.
Enfim, devo falar do primor das atrizes, Fernanda Azevedo, Mônica Rodrigues, da equipe técnica, sonoplastia, ao realizar uma peça de teatro em um auditório bastante inadequado, sem deixar cair a peteca, com seriedade e profissionalismo, com muita interatividade envolvida, como por exemplo o fato da música Luciana Fernandes, introduzir elementos de percussão o tempo todo com um acerto impecável.
Tenho uma formação humanista, e até onde isto é possível, uma postura feminista, e mesmo assim tive a oportunidade de imergir em minhas raízes geracionais, e perceber o quanto somos criados e programados para repetir certos comportamentos, como certas “piadas” na verdade são alertas para aquelas que estão saindo do comportamento “adequado”.
Enfim, devo falar do primor das atrizes, Fernanda Azevedo, Mônica Rodrigues, da equipe técnica, sonoplastia, ao realizar uma peça de teatro em um auditório bastante inadequado, sem deixar cair a peteca, com seriedade e profissionalismo, com muita interatividade envolvida, como por exemplo o fato da música Luciana Fernandes, introduzir elementos de percussão o tempo todo com um acerto impecável.
Como já disse antes, a
apresentação se deu em um espaço público de minha cidade, para um público
predominantemente feminino (PLP – Promotoras Legais Populares) e acostumadas a
lidar com casos de violência contra a mulher diariamente. Havia uma certa
animosidade contra os homens, mas até isto foi uma experiência interessante. No bate bola pós-apresentação, um rico
debate, onde até se criou um mal estar muito benéfico quando coloquei que a
violência era também uma questão de cultura humana, e tive que explicar o
aspecto semântico e teórico de minha colocação. Gostaria muito de ver alguns amigos
intelectuais e escritores, passar por esta experiência, valeria muito para suas
carreiras e obras. Sai da apresentação
mais rico e sábio que entrei, sem dúvida.
ATIVIDADES DO PROJETO
CARNE – PATRIARCADO E CAPITALISMO
Kiwi Companhia de
Teatro/Cooperativa Paulista de Teatro
APRESENTAÇÃO DA PEÇA “CARNE”
(seguida de debate) em Mauá
A Kiwi Companhia de Teatro existe há 15 anos. Um dos objetivos do grupo é refletir sobre o teatro e a sociedade, abordando criticamente temas da atualidade.
A Kiwi Companhia de Teatro existe há 15 anos. Um dos objetivos do grupo é refletir sobre o teatro e a sociedade, abordando criticamente temas da atualidade.
Carne discute as relações entre
patriarcado e capitalismo, mostrando o panorama da opressão de gênero e a
situação específica da violência contra as mulheres no Brasil.
Neste trabalho cênico são utilizadas canções populares, imagens publicitárias, estatísticas sobre a violência contra as mulheres, trechos de romance, entre outros materiais.
Entre os anos de 2010 e 2012 o trabalho foi apresentado mais de 90 vezes em diversas regiões da cidade e do Estado de São Paulo com o apoio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro e também no Estado do Pará, com apoio do Prêmio Myriam Muniz de circulação de espetáculos, sempre parceria com movimentos feministas e de mulheres e organizações sociais.
Neste trabalho cênico são utilizadas canções populares, imagens publicitárias, estatísticas sobre a violência contra as mulheres, trechos de romance, entre outros materiais.
Entre os anos de 2010 e 2012 o trabalho foi apresentado mais de 90 vezes em diversas regiões da cidade e do Estado de São Paulo com o apoio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro e também no Estado do Pará, com apoio do Prêmio Myriam Muniz de circulação de espetáculos, sempre parceria com movimentos feministas e de mulheres e organizações sociais.
Duração: 1h20
Faixa etária: maiores de 14 anos
Direção: Fernando Kinas
Roteiro: Fernanda Azevedo e Fernando Kinas
Elenco: Fernanda
Azevedo, Mônica Rodrigues
Direção musical: Eduardo Contrera
Execução musical: Luciana Fernandes
Assistência de direção e produção: Luiz Nunes
Direção musical: Eduardo Contrera
Execução musical: Luciana Fernandes
Assistência de direção e produção: Luiz Nunes
Agenda:
Mauá SP
Data e horário: 29 de junho de
2012 (sexta-feira), 19h
Local: Rua Rio Branco. 183, Centro
de Formação de Professores Miguel Arraes, Mauá/SP
TODAS AS ATIVIDADES SÃO
GRATUITAS.
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