http://amuletospatua.blogspot.com.br/2014/08/o-tempo-e-o-tempo-que-passam-pelos-olhos.html
O tempo e o tempo que passam pelos olhos
Mas o mais marcante na obra é a questão do tempo. Para se apreciar esse aspecto, no entanto, é necessário ler todo o livro em seu conjunto. Apenas um poema não dá conta de expressar as metáforas do tempo como clima e do tempo como passagem que une a infância e a velhice. Serpentes, signos de eternidade e recomeço, estão por perto: às vezes o próprio eu lírico tem "várias línguas bífidas". Leiamos "ar seco do deserto":
este redondo sol lua
que mergulha lento
no concreto dos limites de meu olho
veste-se de lágrimas cinzas
e sangue seco
céu de contrafortes
grande muralha
que afasta
os vivos dos mortos
sonho com arroz
que se derrama
e uma grande mesa com carne e vinho
servidos
os touros galopam
de assalto
cascos em chamas
asfalto que afoga a noite
o carisma dos esquecidos
forro meus olhos
do medo líquido
minha mão branca
coleção
de almas penadas
e o nariz em sangue
no ar seco do deserto
que estão esses dias"
Notemos no poema acima a questão da ressurreição: a carne na mesa se torna "touros que galopam". Outros poemas falam de chuva, gelo, poeira; e também de infância e velhice. A morte é recorrente.
O livro perde um pouco do seu fôlego ao final, quando fica mais confessional e menos cortante, quando o léxico se afrouxa ao sabor das lembranças e ao medo que traz o envelhecimento ("lembrar é como morrer de novo/ e contar com isso sempre"). Mas, como já foi dito, "a fome insaciável dos olhos" é um livro para se ler por inteiro. O estilo é elegante, moderno, impactante. É um livro bom para se ler uma vez, guardá-lo na estante, esperar passar o primeiro impacto e ser retomado para uma nova leitura. (Vivian de Moraes)
http://www.editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=158&Itemid=53
Nenhum comentário:
Postar um comentário