Há um ano, mais ou menos, comecei este blogue com o intuito de escrever pelo menos de quinze em quinze dias. Não fui tão disciplinado assim, houve falhas várias, mas no geral foi uma experiência muito rica, os textos tomaram seu próprio rumo, escrevi sobre o que queria e sobre o que senti necessidade, nem sempre necessariamente o que me fosse agradável. Estamos renovando a promessa da abertura do blogue nesta última blogagem do ano, continuaremos escrevendo.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Última blogagem de 2009.
Há um ano, mais ou menos, comecei este blogue com o intuito de escrever pelo menos de quinze em quinze dias. Não fui tão disciplinado assim, houve falhas várias, mas no geral foi uma experiência muito rica, os textos tomaram seu próprio rumo, escrevi sobre o que queria e sobre o que senti necessidade, nem sempre necessariamente o que me fosse agradável. Estamos renovando a promessa da abertura do blogue nesta última blogagem do ano, continuaremos escrevendo.
“tirinha” – DGABC 26/12/2009
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
OUTRAS PALAVRAS - POÉTICAS DES-DO-BRA-DAS - 16/12/2009


PRAÇA DO CARMO, 171, CENTRO – SANTO ANDRÉ, SP
TELEFONE: 4992-7218
16/12/2009, às 19:00h
TELEFONE: (11) 4992-7218
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Romper as fronteiras que estão dentro de seus corações.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
EL HAMBRE ES UN CRIMEN - A FOME É UM CRIME
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Uma insondável proposta de intolerância e violência
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
OUTRAS PALAVRAS - POÉTICAS DES-DO-BRA-DAS, Santo André, SP · 16/12
CASA DA PALAVRA – ESCOLA LIVRE DE LITERATURA
PRAÇA DO CARMO, 171, CENTRO – SANTO ANDRÉ, SP
TELEFONE: 4992-7218
16/12/2009, às 19:00h
TELEFONE: (11) 4992-7218
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Blogagem Coletiva “Abre Aspas Terceira Edição”

No dia 09 de novembro (uma segunda-feira – é claro) “abra aspas” no seu blog, escolhendo um poeta e uma poesia para deixar mais poética a blogosfera…
DE "OS MISTÉRIOS DO OFÍCIO"
"De que servem exércitos de canções
e o encanto das elegias sentimentais?
Para mim, na poesia, tudo tem de ser desmesurado,
e não do jeito como todo mundo faz.
Se vocês soubessem de que lixeira
saem, desavergonhados, os versos,
como dente-de-leão que brota ao pé da cerca,
como a bardana ou o cogumelo.
Um grito que vem do coração, o cheiro fresco de alcatrão,
o bolor oculto na parede...
E, de repente, a poesia soa, calorosa, terna,
Para a minha e tua alegria."
Ana Akhmátova, pseudónimo de Ana Andreievna Gorenki nasceu nos arredores de Odessa em 1889 e faleceu nos arredores de Moscovo em 1966.
Sobre a lamentável atitude da UNIBAN em relação à aluna Geyse.

http://apoiadores.wordpress.com/
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2009/11/07/uniban+expulsa+aluna+hostilizada+por+usar+vestido+curto+9042025.html
Qual o decoro estabelecido para uso de roupas? Ponderemos: em países islâmicos, de rígidos costumes morais e pouco respeito às mulheres, a roupa ideal é a burca, e suas variações, que começam por cobrir sempre a cabeça, ou o corpo todo. Cada povo tem seu costume, e não serei eu que dirá o que é certo ou errado. Mas os que estes países tem em comum é o fato de serem muito pouco democráticos e onde o estado de direito é muito pouco respeitado. Alguns grupos acreditam-se no direito de intervir na vida de todas as pessoas, países como a Arábia Saudita sequer tem uma constituição e é uma monarquia absolutista e medieval, das que desapareceram do mundo ocidental após a Revolução Francesa.
Costumes com vestimentas mudam com o tempo, antes de 1800, uma mulher decente jamais usaria uma calcinha, coisa de mulher mundana, botões nem pensar, as roupas eram quase que costuradas sobre o corpo. Nunca lembro de visto os cabelos de minha avó soltos, sempre cobertos por um lenço. No Brasil até os anos 50 e mesmo depois disso, uma mulher de calças poderia ser presa, e com certeza seria hostilizada na rua. E é ai que quero chegar.
Acredito ser o Brasil um país constitucional, onde bem ou mal, funciona o império da Lei (ou deveria), há sempre o que se melhorar, mas se compararmos a linha do tempo, veremos que já foi pior, e bem pior. Existe na Constituição o claro direito de ir e vir, e o de nos portarmos conforme nos for conveniente e confortável. Graças a todos os deuses, não temos leis de costumes, que nos indicam o que vestir, o que comer, aonde ir. O que aconteceu na UNIBAN, vai além do lamentável, cai em um terreno muito perigoso, pois por um lado a universidade condena a vítima e valoriza o ato criminoso( preparem-se, a próxima vítima dos TaleBans furiosos pode ser sua filha). E por outro perpetra o ato nefando da violência contra a mulher, nossos jovens lamentavelmente estão eivados de um veneno que se chama machismo, onde um homem tem mais valor que uma mulher, algo que fere a Lei e o bom senso ao mesmo tempo, um câncer que já deveria ter sido extirpado a muito tempo do seio de nossa sociedade, mas como o nazismo e o preconceito, seus subprodutos tóxicos, parece que renasce todo dia como a cabeça de uma hidra de Lerna.
Lembremo-nos, quando uma mulher é agredida, todas as mulheres o são.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Considerações atrasadas sobre a blogagem coletiva no “Love Your Body Day”.

Lembro do dia em que definitivamente percebi que nunca seria cristão, quando me conscientizei que a máxima, "ama ao próximo como a ti mesmo" era a espinha dorsal do cristianismo e descobri que não me amava. Ao contrário me odiava de morte. Passei a puberdade me odiando e querendo morrer a cada esquina, a cada espinha, a cada quilo que engordava inexoravelmente, a cada fantasia de rejeição, ao fato de ser feio e desajeitado (como se todo adolescente não fosse), ao de ser um fracassado no esporte, às complicações inerentes da idade e que ninguém nos contava que era natural. Odiava o fato de enxergar mal e cada dia ver menos. Odiava ter a compreensão do mundo dilatada, embora equivocada, e de ser mais inteligente que os outros, e sentir uma fome inesgotável de conhecimentos. Odiava aquele deus mal e cruel que em tudo colocava o dedo e sempre dava as piores soluções. Odiava minha sensibilidade e tinha um medo terrível de que isso significasse uma menor virilidade. Escrevia poemas escondido, às escuras, às avessas. Lia com uma devoção religiosa, mas passava por idiota para não ser notado em minha intelectualidade. Não sinto a menor saudade de minha juventude, eu era infeliz e sabia.
Mas se não nos amamos, como amar o outro? Como ver o outro como bom, se assim não nos vemos? Não é possível a compaixão sem amor.
O tempo é o único senhor do mundo, e diante dele tudo se dilui, os ódios arrefecem, as iras se aplacam, o medo cansa. Aí nos entregamos à vida como ela é, simplesmente ser, sem sentido algum. Algumas pessoas mergulham no abismo, e cessam, outras o escondem sob o manto da fé, pois sabemos que contemplá-lo é muito doloroso. A outros cresce dia a dia uma indiferença, que se não é a morte, é como se fosse. Hoje ainda não me amo, mas isto não importa mais. Felicidade é um momento e um estado de espírito artificial, a tristeza nos torna mais alertas e conscientes de nossa vulnerabilidade.
O conceito de beleza da sociedade ocidental, se baseia na punção de morte. Eros cede cada vez mais espaço a Tânatos. Dentro do princípio que não há mais passado, porque se busca o novo o tempo todo, e é negado o futuro, porque o que importa é só o hoje. A partir deste pensamento que se pode moldar e traçar metas irreais de corpo, como se pudéssemos colocar as pessoas em formas e torná-las uniformes. E mesmo que isto fosse exeqüível, não é esse o objetivo final. A meta final da sociedade de consumo é que todos sejam infelizes, e incomodados com isso, e que preencham sua necessidade de felicidade eterna com produtos de consumo. Ser feliz é ter o carro tal, com itens, que, provavelmente, passada a euforia original da novidade, nem sejam utilizados. Ser feliz é imprescindível, pague-se o preço que se pagar por isso.
Lojas da moda, mesmo as mais populares, trabalham com o conceito das pessoas comprarem roupas para usarem pouco e descartarem. Tudo passa a ser item de consumo, mesmo coisas básicas como o vestir. Pessoas de meia idade com o peso acima da média, e que compram roupas para vestir e não ostentar, como meu exemplo, dificilmente encontrarão o que lhes caiba nestes lugares, os tamanhos diminuíram e não foi só eu que aumentei. Tive o disparate de comparar uma roupa extra-grande com uma G, e não GG, que tinha das minhas camisetas velhas e a G antiga era maior.
Existe na mídia toda uma pseudociência, anunciando os malefícios da obesidade, médicos da moda, que são notadamente embusteiros a procura de notoriedade e dinheiro principalmente, colocando inverdades como verdades absolutas e omitindo estudos que comprovam que as pessoas adoecem, não importa sua massa corporal. Há gordos e magros, com câncer, diabetes e problemas de coração no mundo. Não posso negar que a obesidade em certo grau é um complicador para a saúde, mas temos que tomar cuidado com as mitificações, doenças genéticas ligadas a marcadores nos cromossomos estão sendo equivocadamente relacionadas com a obesidade. No passado ser gordo era bom perante a medicina, hoje é mal, nos dois casos há um erro de conceito, um bom médico é o que avalia paciente por paciente, não por baciada. O gordo é o novo leproso que deve ser banido da sociedade.
As pessoas e nós morremos porque somos factíveis, é a única certeza que existe, a mídia usa isso o tempo todo, mas de forma distorcida, “aproveite enquanto se é jovem”, “ viva a vida, e tome Coca-cola”. No entanto o outro lado da moeda fica meio obscuro, crianças fazendo cirurgias plásticas, escravas de uma indústria da moda cada mais selvagem em seus hábitos, cada vez mais pedófila e deformada em sua sexualidade. Há um mundos de tarados e desviados sexuais dominando a mídia, e tudo parece bonito aos olhos de todos se veiculado a exaustão.
Na educação escolar nos deparamos com uma situação de intolerância extrema, o estranho, o diferente, o disfuncional é tratado com crueldade, violência e estranheza. Como se não enxergássemos nossas diferenças ao nos olharmos com o devido cuidado, e o que nos torna mais humanos é isso, a possibilidade da multiplicidade. O despeito e a inveja são os sentimentos que substituem, a compreensão e a solidariedade. E tudo isso permite, que nossos opressores, que são invisíveis o tempo todo e desconfio que sejamos nós mesmos (pois afinal quem sustenta a televisão e tudo mais, não somos nós mesmos?), operem como toda a liberdade. Há uma caça às bruxas aos políticos maus e corruptos, como se estes fossem uma classe a parte da população em geral, como se não fornecêssemos os nossos próprios filhos para este extrato social, como se a classe média infeliz e desejosa de compensações, não sustentasse o tráfico de drogas comprando-as.
Há um novo mito que surge, a do jovem invulnerável, imortal e imoral, eternamente jovem e belo, um narciso corrompido pela húbris, com suas motos possantes vazam faróis vermelhos, com seus carros incrementados estacionam nas vagas dos deficientes, usam esteróides para adquirir massa muscular, passam horas em frente a espelhos e nos vendem esta imagem como o protótipo do perfeito. E todo um exército de seguidores fiéis, que não tem os carrões nem as motos, mas tentam imitá-los na medida do possível. Em resumo é a idealização da imbecilidade. Por outro lado as mocinhas passam fome, usam roupas desconfortáveis, e se resumem cada vez mais em uma vagina onde os “bombados” depositam suas frustrações. Em relações sexuais cada vez mais focalizadas no órgãos sexuais, a nova opressão é mostrar o sexo em tudo até que se enjoe do corpo, o corpo é para mostrar não para se desfrutar; é o totalitarismo do falo. Mesmo as mulheres passam a ter um comportamento fálico, andrógino e violento.
Ai da poesia que é uma ferida de Narciso, mas daquele que se contemplava nas águas plácidas do lago, o espelho hoje é o outro, de quem importa-se só a admiração. As pessoas precisam parecer belos e não se sentirem belos.
Quando um bando de doidas que vivem no umbigo do mundo fazem uma campanha para que as mulheres se aceitem como são, independente do bombardeio diário da mídia em suas vidas, cresce uma centelha de esperança. Sou pessimista por natureza, mas creio que o mundo se move por pequenas iniciativas isoladas que se somam. É na mulher real que o mundo se sustenta, são elas que educam as crianças, cuidam dos doentes, enterram seus mortos, administram a casa na guerra cotidiana e na paz provisória em que vivemos, cada vez mais são quem provém o sustento e o abrigo dos seus. Quase sempre iniciativas de economia solidária e sustentável, ações de reciclagem de materiais e reuso da água, são ações de mulheres. Em muitos casos são a reserva ética da humanidade, e as mais capazes daquilo que nos torna mais humanos: o exercício da compaixão. Se estas mulheres além de tudo isso, aprenderem a se amar também, tomarão conta do universo.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Vamos celebrar a beleza do corpo feminino em todas a sua variação e diversidade.


"Com a proposta de celebrar a beleza do corpo feminino em todas a sua variação e diversidade, o “Love Your Body Day” chega hoje à sua 12a edição.
O movimento foi criado pela norte-americana NOW – National Organization for Women (Organização Nacional das Mulheres). Em 1998, alarmada pelo índice cada vez maior de mulheres que desenvolvem problemas alimentares — sem contar a sensação psicológica de exclusão dos padrões –, a instituição sugeriu um dia anual para as mulheres curtirem seu corpo, além de organizar uma listagem de propagandas que ofendem ou distorcem a condição feminina.
Para celebrar, vale tudo, das menores às maiores atitudes: dar um tempo na sua autocrítica com o espelho; agendar uma boa massagem e, depois, comer sua sobremesa favorita sem culpa; mandar um cartão virtual para espalhar a ideia – ; escrever no seu blog a respeito (veja a proposta do Duplamente Venusiana aqui)."
Fonte: http://colunistas.ig.com.br/delas/2009/10/21/e-hoje-celebre-seu-corpo-no-love-your-body-day/quinta-feira, 15 de outubro de 2009
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Se morio La Negra.

“Pasan los años,
y cómo cambia lo que yo siento;
lo que ayer era amor
se va volviendo otro sentimiento.
Porque años atrás
tomar tu mano, robarte un beso,
sin forzar un momento
formaban parte de una verdad.
Silvio Rodriguez “
Se morio La Negra, a América Latina fica sem voz. O som que dava pano de fundo aos nossos sonhos adolescentes se apagou. A música que embalava nossas bandeiras não canta mais. Hoje o dia amanheceu mais triste, neste pedaço esquecido de América, que se pensou esperança.
Existem coisas que nunca esquecemos, e a voz de Mercedes Sosa que ouvi no rádio a primeira vez, no programa América do Sol, do poeta e cantor Abílio Manoel, “Mi oficio de cantor es el oficio”, versos que entraram em minha alma como ferro em brasa, que arrancaram meus primeiros versos de uma alma seca. Fiz-me poeta na canção. Nem sabia o que era a vida, de tão jovem, mas sabia queria alguma coisa como aquilo, aquela força poderosa que se apoderava de mim cada vez que ouvia aquela voz. O calor que me subia a espinha e me fazia sentir vivo.
Aprendi a tocar toscamente violão, este que carregava como troféu pelas ruas, sob os olhares desconfiados da polícia, pois para os algozes, a arte era algo muito danoso aos jovens. Além de proletário e estudante, queria ser cantor, e do cantor nasceu o poeta. Bastava-me arrastar dedilhados andinos, canções de América, ouvir Tarancon, Raíces de América, me emocionar até as lágrimas, com “volver a los dezessiete”, cantada por La Negra junto com Milton Nascimento, e meus olhos foram ficando cada vez mais profundos, melancólicos, a me recordar como Amanda as canções de Victor Jara. Aprendi o comunismo de uma forma branda, “Hay que endurecer, pero sin perder la ternura”, acreditei por muito tempo na esperança, vivi no tempo que se gastou o medo, de tanto usado. Carregávamos nossas bandeiras vermelhas com fé e orgulho, nosso mundo tinha um destino. Nosso amor era coletivo. Mas sonhos morrem também, e embora demore um pouco, a esperança também se finda. E agora vivemos em uma existência onde foi roubado o amanhã. O que resta ao poeta é saber se findável, e ficar esperando a morte. Como diz o poeta José Carlos Brandão, “escrevo porque vou morrer”.
Hoje minha vitrola está quebrada, e sempre adio o seu conserto, meus discos mofam e se envelhecem. Às vezes por absoluto saudosismo procuro no Youtube algumas daquelas canções, e fico chorando sozinho, pois minha companheira ralha comigo quando escuto canções tristes. Meu amigo o poeta Marcelo Ariel disse que a nostalgia é uma forma de suicídio, corroborado por análises psicológicas, e coisa e tal. E penso que viver só do imediato sem a possibilidade de esperança, de um porvir, é tão morte como a morte, que é melhor desviver ouvindo canções tristes, do que ficar solto na corrente que nunca para. Não deveríamos sobreviver à própria morte.
Ontem, dia 05 de outubro morreu Mercedes Sosa, a mulher que tinha o nome de minha avó, que também já morreu. Nossas referências estão envelhecendo, e morrendo, e nós também ficamos irremediavelmente velhos, logo chegará a nossa vez. Vivemos a trajetória do herói trágico, a de vivermos mais que nossos sonhos. E não ficamos sábios. Um dia um amigo meu disse que a esperança venceu o medo, hoje nem mais o medo temos a nos motivar.
Sorte a poesia também viver de amargor.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Bibliotecas do Inferno II


No dia 10 de maio de 1933, foram queimadas em praça pública, em várias cidades da Alemanha, as obras de escritores alemães inconvenientes ao regime.
Tempos atrás, alguns anos na verdade, escrevi um poema crônica sobre o destino dos livros que eram queimados ou destruídos em atos de barbárie e ou ignomínia. No meio poema, meio conto, os livros queimados em praça pública iriam integrar as bibliotecas do inferno, como o texto tende a ser enxuto, algumas formas de destruição vis de livros ficaram de fora, menos o hábito brasileiro de transformar livros em papel higiênico, por exemplo. Já que a cultura não nos entra na cabeça pelos olhos ou dedos, quem sabe por outro orifício.
No texto em questão nomeava como funcionário destas bibliotecas, determinadas pessoas: ...Os destruidores da Biblioteca de Alexandria, trazidos ali originalmente para cuidar dos volumes desta, catalogavam e cuidavam deste precioso acervo. Depois, bibliotecários sádicos, maus poetas e beletristas... Pois bem, descobri recentemente que fui injusto em não incluir novas duas categorias de pessoas para trabalharem na lida e cuida dos livros do acervo do tinhoso: diretoras e coordenadoras pedagógicas de escolas estaduais.
Chegou a mim uma informação de primeira mão, cujo a pessoa não posso, por razões éticas e óbvias, revelar o nome, que em uma escola estadual em minha cidade, a diretora e uma coordenadora pedagógica destruíram parte do acervo da biblioteca da escola, arrancando as capas para ocultar o crime e vendendo os livros como sucata. A desculpa, os livros estavam “feios” e maltratados, e uma nova leva seria enviada pelo governo para substituir os livros. Odeio usar este tipo de expressão, mas o dinheiro que sai de nossos bolsos em forma de impostos, compra os livros para as crianças, justíssimo, no entanto estes livros ficam trancados à sete chaves para não estragarem, como pessoalmente já vi livros que nunca haviam sido tocados em bibliotecas escolares, e se por acaso passarem raramente pela mão de uma criança, e tiverem um leve esfolado de uso, ou uma “orelha”, o destino é a destruição. A destruição de alguns exemplares pelo uso é natural, mesmo porque a criança não afeita ao uso desta mídia que é o livro, não saiba como manuseá-lo. Não foi o caso, as razões da destruição não foram por condições de uso, mas sim estéticas. E uma noção estética, perigosa, que muitas vezes passa pelo preconceito pessoal das pessoas que realizam estes “autos de fé”.
Em um momento em que por força da necessidade de letramento é importante que as crianças manuseiem os livros, e estes livros já meio rotos são os ideais, se o livro tiver de ser destruído, que o seja no processo de aprendizagem dos pequenos, e não pelo horrível senso de zelo de pessoas que deveriam estar pedagogicamente comprometidas, e não por desvelos burocráticos e exercício de pequeno poder. É tão difícil em um país de analfabetos funcionais começar a se incutir o gosto pela leitura, e sabemos que quanto mais cedo isto acontece, melhor e mais eficiente o efeito. O que me dói, é que uma das informações que me chegaram é que os livros escolhidos para virar sucata eram livros de poesia para crianças. Em um bairro carente de cultura em minha pobre cidade, o direito dos infantes foi vilipendiado.
Não é a toa que esta escola estadual teve notas muito ruins na avaliação feita pelo estado, não é estranho que muitas crianças estão chegando analfabetas no quinto ano. A poesia precisa de muito fôlego para sobreviver nestas condições. Se muitas destas pessoas mal saberão ler seus holerites e saber se estão sendo enganadas pelos patrões.
Não graças a estes funcionários zelosos e burocratas empedernidos.
Mas a poesia ainda vive.
bibliotecas do inferno

Sempre imaginei que livros queimados em praça pública em manifestações nazistas, livros queimados em fogueiras de autos de fé, livros triturados e amalgamados em novo papel higiênico, se transportavam para as bibliotecas do inferno. Os destruidores da Biblioteca de Alexandria, trazidos ali originalmente para cuidar dos volumes desta, catalogavam e cuidavam deste precioso acervo. Depois, bibliotecários sádicos, maus poetas e beletristas, passaram a cumprir ali seu castigo eterno. Mais tarde ainda censores papais e de insipientes ditaduras completaram os cargos remanescentes.
Demônios são criaturas que tem o saber como uma de sua fomes,
a ignorância dos homens aguça mais os seus apetites.
ratos devoravam pergaminhos
como queima agora
o azeite desta lâmpada...
domingo, 6 de setembro de 2009
Sobre o editorial do jornal Diário do Grande ABC de sexta-feira 04 de setembro de 2009

Concordo com o editorial do Diário da Grande ABC que as administrações municipais estão deformadas em sua ideologia por conta da maneira com que tratam a Cultura em nossas cidades. Mas gostaria de esclarecer, que a Cultura de Mauá não se resume à Banda Lira, que tem grande importância, mas não é a única manifestação cultural em risco.
A própria Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer de Mauá, já nasceu deformada, na “Reforma Administrativa” que “enxugou a máquina”, criou uma Secretaria vazia de cargos administrativos e técnicos, o corte na carne atingiu a Cultura como um raio, o Museu, o Teatro, as Bibliotecas carecem de infra-estrutura mínima para funcionarem, e estão de pé graças a muita boa vontade por parte de seus funcionários, que são heróis em sua profissão.
É claro que existe uma herança maldita, e ela existe mesmo, mas sinto saudade do tempo em que as administrações do PT eram criativas para sair da crise, e ao invés de transformar seus mandatos em “muros de lamentação”, procuravam parcerias com os produtores culturais e populares. Cadê nossos deputados estaduais e federais que aparecem sazonalmente em busca de votos, que tal uma gestão junto ao governo federal para algumas ações? Quando aos prefeitos gostaria que eles fossem além de uma compreensão simplória do que é Cultura. Cultura somos todos nós, Cultura também é memória. Um povo culto é mais barato, pois não destrói nem desperdiça.
Quanto a identidade perdida ainda é tempo de buscá-la.
domingo, 30 de agosto de 2009
Entrevista - Radio UNESP FM - Progrande Perfil Literário em 24/08/2009


Entrevista que concedi ao programa da Radio UNESP FM - Perfil Literário e foi ao ar no dia 24/08/2009.
http://aci.reitoria.unesp.br/radio/perfil_literario/266%20EDSON%20BUENO%20DE%20CAMARGO%20OK.mp3
A edição de áudio é de Daniel Patire, Danilo Koga, Fabiana Manfrim e Renato Coelho, da ACI, e a produção, de Fabio Fleury, da Rádio Unesp FM
Rádio Unesp - A Unesp FM é uma Unidade Complementar da Reitoria, vinculada ao Centro de Rádio e Televisão Cultural e Educativa da Universidade Estadual Paulista. Sediada no campus de Bauru. Com potência de transmissão de 3.000 watts e antena de 41 metros, a emissora atinge um raio de 100 km, atendendo a cidade de Bauru e região, podendo ser sintonizada em 105,7 MHz.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Sobre o texto “A Ascensão das oficinas literárias - ( Folha de S. Paulo) de ERNANE GUIMARÃES NETO - DA REDAÇÃO “

http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1756749
A Escola por mais que se tente o contrário, quase sempre é um grande desestimulador da criatividade, escolas para escritores me remete a uma pasteurização, tudo funcionando igualzinho, em produção em série, "máquinas de escrever romances" como na novela 1984 de George Orwell, ou coisas mais terríveis ainda, máquinas de não escrever nada de nada. Modelos e mais modelos copiados, sem qualquer inventividade. Esta coisa de escola para escritores é coisa de americano do norte, daquela cultura anglo-wasp, auto imposta para alguns, imposta goela abaixo aos estrangeiros e povos submetidos como nós, onde tudo se remete ao trabalho, ao utilitarismo, ao mercantilismo, a valoração monetária. Eles inventaram o capitalismo e convenceram o mundo que ele é bom para todos. É uma herança do puritanismo que os próprios norte-americanos odeiam, mas da qual não conseguem se livrar.
O que me dói é ver brasileiros, filhos da criatividade ilimitada, da sobrevivência exacerbada, das adaptações técnicas que superam nossa falta de tecnologia de ponta, herdeiros do multiculturalismo e de Macunaima, "pagando o pau" para esta imitação da falta de ego, da transformação da vida social em coisas estandardizadas e com gosto de linha de produção, da aversão ao sexo das sociedades patriarcais calvinistas. Como se literatura e poesia pudessem ser comprimidas em uma fórmula. Em o “Arco e a Lira”, Octávio Paz fala da impossibilidade da reconstrução do poema, dado que seu projeto arquitetônico se esvaece quando pronto. Cada poema é único em si, e se não for, não terá como conter a poesia.
Sou um grande defensor das oficinas de criação literária pela possibilidade da rebeldia, do anarquismo, como espaço de convivência, como espaço de experimentação e de troca de idéias. Estou estudando Pedagogia para entender o fenômeno que é a escola e a educação. Mesmo dando oficinas de criação literária, nunca acreditei em se aprender criatividade, ou se ensinar como escrever, o que podemos é dar dicas de caminhos que já foram seguidos. Não existe maior fermento para a criação literária que a leitura contínua de tudo o que nos cai às mãos, de alta-literatura à receita de bolo. Criatividade é uma coisa que se tem, como ética e ou caráter, o que podemos fazer é estimulá-la. Resgatar o que a educação, que não é educação, massacra em nossas crianças. Sonho com o momento em que a aquisição de cultura e de conhecimento não sejam estranhas entre si.
A poesia felizmente é maior que tudo isso.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Meu poema "trinta e sete rosas" foi classificado no II Concurso Nacional de Poesias Cabeça Ativa.


Meu poema "trinta e sete rosas" foi classificado no II Concurso Nacional de Poesias Cabeça Ativa. O poema está entre os 12 selecionados que terão seus poemas publicados e figurará no mês de fevereiro do Calendário Poético 2010 produzido pelo grupo "Cabeça Ativa - Produções culturais." (www.cabecaativa.jex.com.br)
trinta e sete rosas
Edson Bueno de Camargo
trinta e sete rosas
explodem para o sol
luzem o branco de dunas
ventre de sal corrosivo
fantasmas das velhas salinas
o casco de velhos vapores
mal a haste as sustentam
zombam da gravidade
esperando a gravidez
sexo esbelto e formoso
em busca da fecundação