segunda-feira, 28 de março de 2011

Na mais bela república



na mais bela república
arrancariam mãos e línguas dos poetas

Jorge de Barros in Apocalipse-Pílula –inédito.

“Mas então só aos poetas é que devemos vigiar e forçá-los a introduzir nos seus versos a imagem do caráter bom, ou então a não poetarem entre nós? Ou devemos vigiar também os outros artistas e impedi-los de introduzir na sua obra o vício, a licença, a baixeza, o indecoro quer na pintura de seres vivos, quer nos edifícios, quer em qualquer outra obra de arte? E se não forem capazes disso, não deverão ser proibidos de exercer o seu mister entre nós? (A República – Platão - )




Recentemente, graças ao meu mau hábito de não conseguir manter a boca fechada, entrei em uma polêmica no Facebook, sobre o filósofo Olavo de Carvalho, falei o que pensava e recebi uma enxurrada de respostas nervosas e mal educadas, muitas vezes beirando a grosseria. A partir dai, cometi meu segundo erro, tentei argumentar com estas pessoas. Descobri uma total impossibilidade de diálogo, onde a argumentação não era possível, ou concordava, ou era inimigo mortal e irreparável. Percebi que na unilateralidade colocada não era possível o diálogo, tirei meu time de campo.

Aqui não vem ao caso se eu estava certo ou errado, diante da agressividade de meus contentores, tive uma visão preocupante. É possível que em meu preconceito pessoal contra ultra-direitistas tenha sido um pouco contundente em minha crítica, mas o que era para ser simplesmente um contra-ponto em uma série de unanimidades, passou a ser um embate.

Dentro de minha visão pessoal, o filósofo Olavo de Carvalho é um desperdício de inteligência, uma pessoa genial, de uma cultura muito grande em um país de analfabetos funcionais, mas que milita causas que não são de meu apresso, tais como uma hegemonia cristã sobre todos e sua militância anti-aborto,e anti-socialista, afora sua crença de que existem pessoas que são superiores às outras, daí eu tê-lo chamado de eugenista, talvez nem muito adequado, mas seu pensar é muito próximo disto. Ora, se não concordo com nenhuma das duas causas, sendo socialista e a favor da liberação e descriminalização do aborto, não posso defendê-lo.

Mas o que me pegou mesmo não foi nada do que está colocado antes, foram algumas colocações argumentativas que mexeram com a minha percepção. Theodor Adorno, em uma palestra em 1949, colocou em xeque a poesia ocidental, quando pergunta, se era possível escrever poesia depois de Auschwitz. Diante do inominável terror do nazismo, Adorno, é muito preciso, é possível a humanidade humanizar-se novamente? Não tenho esta resposta precisa, mas sei que ainda fazemos poesia, porque é de nossa natureza tanto o terror quanto a poesia. O maior terror das nações fascistas foi marchar sobre a realidade, como se a verdade de única via, assim os absolvesse de todos os pecados que seriam cometidos em seu nome. A certeza da única verdade é a maior violência que pode ser cometida. Os jovens do século XXI, nascem e crescem sem esta égide, os mortos foram à muito sepultados, mas as atrocidades e injustiças cometidas por todos os lados da guerra ainda ecoam em nossas almas. Somos todos co-responsáveis em uma parcela porque somos humanos, e aqueles crimes foram perpetrados por entes de nossa espécie.

Entre um impropério e outro que foram proferidos e me foram atribuídos, por não concordar com a linha de raciocínio dos contentores, a que me deixou pensativo foi a expressão, ‎"Estupidez afetiva", isto me fez lembrar do livro "Admirável Mundo Novo (Brave New World)" de Aldous Huxley onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas. Sem que o “sentimentalismo” (outra colocação contundente) atrapalhasse a linha de raciocínio lógico da produção. O fordismo era a filosofia adotada no mundo perfeito do livro.

Segundo meus contentores, minha visão está turvada pela compaixão humana, me impedindo de ver a verdade, que existem de fato seres humanos melhores que os outros, e que é natural uma sociedade dividida em castas, onde os mais aptos se sobrepõe aos inferiores. Lamento aos que acreditam nisto, mas não acredito. Embora exista uma irresistível tentação de acreditar que Fernandinho Beira Mar seja um monstro, uma espécie diferente, ele é fruto de seu meio e aculturação, mais ainda, provavelmente seja um insano, um doente mental com poder e instrumentos para realizar suas fantasias delirantes. Na origem é tão humano quanto nós. É possível que em determinadas condições possamos agir de forma igual, ou não. Suas escolhas o tornaram um criminoso em relação às Leis que nos governam e da ordem moral de nossa sociedade, deve ser privado de liberdade e de seus bens angariados ilicitamente. Desde que dentro de princípios legais, penso até que em alguns casos uma força coercitiva maior deva ser empregada.

Platão em sua República ideal, condena os poetas ao ostracismo, pela sua veleidade, e apego excessivo aos prazeres. O homem justo deveria ser disciplinado e afeito a verdade. Os poetas e artistas em geral estão ligados às premissas da sensação (aísthesis) e da imaginação (phantasía), fugindo da verdadeira verdade. Ás vezes a sociedade moderna, governada pela força do números e pela lógica de máquinas, aproxima-se desta sociedade perfeita. Não fosse o fato do capitalismo ser uma engrenagem de destruir o mundo, a esgotar os recursos naturais do planeta para transformar tudo em valores monetários, como se um dia pudéssemos respirar e beber dinheiro.

Elias Canetti, fala que o poeta é o cão de seu tempo, é bem possível então que nossa função seja esta mesma, de sermos bufões a desdenhar da máquina, a de construir escadas espirais para o nada. A de escrever poemas para não serem lidos, e declamar em salas que não há outros senão poetas. Ter a função de sentir a dor alheia como nossa, de ser sentimentalista com grande orgulho. O filósofo dos poetas não é Karl Marx, nem Max Weber. O filósofo dos poetas é Nietzsche, são as danças circulares à Dionísio e aos cânticos xamãs. O filósofo dos poetas é Walter Benjamim se imolando com sangue na fronteira real e imaginária.

“Eu sou um animal sentimental” como diria Renato Russo, bissexual e bêbado, horror dos horrores aos moralistas de plantão. Repito para mim a frase de Renato, é melhor ser um sentimentalista do que um robot de uma mentalidade reducionista e apesar da lógica, ter um erro sistêmico, pois toda a sua premissa é baseada no preconceito.

Na poesia não há espaço para a moral. Poesia é rebelião e desvio de conduta. 




quarta-feira, 23 de março de 2011

8ª Edição de Blecaute: uma revista de Literatura e Artes

 Ler aqui:   http://pt.scribd.com/doc/51412075/BLECAUTE-Uma-Revista-de-Literatura-e-Artes-N-8-


8ª Edição de Blecaute: uma revista de Literatura e Artes, revista digital em formato pdf que tem como objetivo divulgar a produção literária e artística (contos, poemas, ensaios, dicas de leitura) de “novos” autores e artistas paraibanos, assim como de agentes de outros estados do nordeste, do Brasil e membros dos países lusófonos que interajam de algum modo com a literatura atualmente produzida no Estado da Paraíba.



Bruno Rafael de Albuquerque Gaudêncio
Janaílson Macêdo Luiz
João Matias de Oliveira Neto
(Os editores)

Contatos e informações:


EDITORIAL
Dias ainda melhores virão
Os editores
5
CONTO
Amor de Deus
Eduardo Sabino – MG
8
O SANTO OFÍCIO
Um mistério chamado Clarice
Franklin Jorge – RN
10
POEMAS
Epifania, Rugidos e outros poemas
Anna Apolinário – PB
13
ENSAIO
Tinha uma Pedra no meio do caminho
Fábio Vieira – PB
15
TIRADAS DO BAÚ
Bariga de tanquinho
Raoni Xavier – PB
24
POEMAS
Ars Aemulatoria
Erico Nogueira – SP
25
CONTO
Sequestro
João Matias de Oliveira – PB/CE
31
O AEROPAGO
Bojo, Fazendo Xixi e outros casos
Valdênio Freitas – PB
36
POEMAS
Zabé da Loca, Geografia e outros poemas
Edson Bueno de Carvalho – SP
39
CONTO
A Virgem Sagrada
Eduardo Quive – MOZ
44
ESTANTE
História da arte: da pintura aos dias de hoje – A. N. Hodge
Lauriceia Galdino – PB/RJ
49
O escritor e seus fantasmas – Ernesto Sabato
Jãn Macêdo – PB
51
POEMAS
Almas Roubadas, Descalço e outros poemas
Mauro Brito – MOZ
53
CONTO
A Pedra do Diabo
Maxwell F. Dantas – PB
56
POEMAS
Acaso caos, Vestido de Medo e outros poemas
Bruno Gaudêncio – PB
66
CONTO
A Laranja
Ronie Von Martins – RS
70
ENSAIO
O Conto popular: apreciação lógica formal do contexto histórico, linguístico e cultural do narrador oral
Félix Maranganha – PB/RN
74

                                                                                                                                                                        

segunda-feira, 7 de março de 2011

O NHEÇUANO - ANO 2 - NÙMERO 6 - Página 09





Iniciativa muito interessante do escritor Marco Marques, de Roque Gonzales, RS, de fazer um jornal dedicado praticamente à literatura e a cultura regional de sua cidade e região, os nheçuanos são os primos gaúchos da iniciativa mauaense da Taba de Corumbê. Sejamos também índios.


Neste número seis foi publicado um poema de meu livro "De Lembranças e Fórmulas Mágicas", que é me muito caro, pois fala de meu neto, minha passagem para a ancestralidade.

domingo, 6 de março de 2011

“POA 2502”


A “POA 2502” reúne quadrinhos, poemas, ilustrações, depoimentos, contos, fotos. Ciclistas ou não, os artistas retratam a importância do uso da bicicleta como meio de transporte e respondem com arte à brutalidade do acontecimento.


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Link para download: http://www.arvoreseletricas.com/download/poa2502.pdf

* URL para twitter: http://is.gd/poa2502 ou http://ur1.ca/3e039




Após a notícia do atropelamento percorrer o Brasil, cinco escritores indignados dispararam uma convocação por e-mail. Para sua própria surpresa, receberam, num período curtíssimo, dezenas de mensagens, muitas de interessados, muitas outras demonstrando apoio ao projeto. Nos três dias seguintes, vieram os trabalhos, a maioria feita no calor da hora, no fervor da indignação. São esses os trabalhos que compõem a revista.

O fotógrafo Leo Caobelli criou sua obra a partir de uma cópia do e-mail que enviou ao agressor, Sr. Ricardo José Neis. André Dahmer, criador d’Os Malvados, contribuiu com tirinhas conhecidas, que apoiam o uso da bicicleta como meio de transporte. A poeta Lilian Aquino compôs um poema carregado de uma sensualidade cáustica, que fala à altura do acontecimento. Cauê Ito enviou uma foto de sua viagem ao Japão, de quando comprou uma bike e se perdeu pelas ruas de Kyoto. A escritora Veronica Stigger trouxe duas fotos de sua intervenção chamada “pré-histórias”.

A revista traz poucas unanimidades, a começar pelo fato de que os seus autores não são necessariamente ciclistas. Todavia, têm em comum a solidariedade do luto e do alívio em saber que não foi necessária uma morte para disparar o ato. O atropelamento em Porto Alegre se destacou da massa diária de crimes de trânsito por ter vitimado não um indivíduo, mas um grupo. Contudo, como seria se, ao invés de vinte, um único ciclista fosse atropelado? A fragilidade do ciclista é a fragilidade do artista é a fragilidade humana.

Editada somente com softwares livres, a Revista POA 2502 é licenciada com direitos autorais liberados para uso não comercial, podendo ser copiada e redistribuída na forma em que se encontra.

Lançamento oficial: dia 9 de março, quarta-feira de cinzas, quando o ano realmente começa. Apesar da revista ser virtual, haverá abraços reais e bate-papo na Praça do Ciclista, a partir das 19h, São Paulo. Todos convidados!

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Link para download: http://www.arvoreseletricas.com/download/poa2502.pdf

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URL para twitter: http://is.gd/poa2502 ou http://ur1.ca/3e039

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Hashtag: #poa2502