terça-feira, 27 de julho de 2010

Presença na 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.



O poeta Edson Bueno de Camargo estará presente na 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo em duas ocasiões:


- no dia 16 de agosto, segunda-feira, de 14h às 16h. para o pré-lançamento do seu livro “Cabalísticos” – Selo Orpheu - da Editora Multifoco;
Data: 16 de agosto de 2010 às 14h00
Local: Centro de Exposições Anhembi - Rua I Stand: I55

- no dia 22 de agosto às 19h00 no lançamento da “Antologia do I Concurso de Poesia Amigos do Livro / Flipoços de 2010” da qual é participante, no estande do GRUPO EDITORIAL SCORTECCI.
Data: 22 de agosto de 2010 às 19h00
Local: Centro de Exposições Anhembi - Rua M - Stand: M04

Cabalísticos” – Selo Orpheu - da Editora Multifoco



"A coleção Orpheu da editora Multifoco é um selo voltado para a poesia brasileira nos últimos anos. Adotando como marca a lira “orphica”, o selo pretende redescobrir a poesia brasileira. Através da coletânea que leva o selo Orpheu, tentaremos traçar uma linha desta poesia. Assim, mais do que selo editorial, trata-se do resultado de uma cuidadosa pesquisa. Buscaremos o poeta e sua poesia. Do mesmo modo que Orpheu buscou Eurídice, nós procuraremos os poetas, inéditos ou não, que por sua atividade merecem vir à luz, através do objeto livro. Desejamos construir um “templo de audição”. Formar, pelo conjunto de vozes apresentadas na coletânea, uma harmonia.

Atenciosamente,
Anderson Fonseca
Editor"



Edson Bueno de Camargo, é outro poeta a estrear o selo Orpheu.
Edson Bueno, nasceu em Santo André (SP), em 1962. Publicou em diversas revistas, dentre as quais se destaca Confraria 2 anos (2007), O Casulo (2008) e da Revista Literaria Remolinos (Uruguai, 2008) . É autor dos livros De Lembranças & Fórmulas Mágicas (2007); O Mapa do Abismo e Outros Poemas (2006), e Poemas do Século Passado-1982-2000 (2002).
Pelo selo Orpheu, Edson Bueno de Camargo está lançando o livro Cabalísticos.





" Cada pedra, mesmo a mais bruta, acolhe em sua consistência a lubricidade das fêmeas. Nas contas de opala da dentição, a mulher calcifica o que de rocha tem em si. É sob a pressão e o escuro das profundezas, que terra e mulher se identificam em poder de gestar no silêncio paciente e violento do mundo. Géia, pedra-fêmea: o erotismo medido na equivalência desses dois entes magníficos surge nesse livro de Edson Bueno de Camargo, revelando um universo de luas cheias, de turmalinas, de combinações alquímicas, de imagens domésticas e misteriosas, acontecendo no espaço entre o solo e o baixo ventre das damas.

Edson está entre os escritores atuais que mais admiro, por sua potência criativa e sua inconformidade com as soluções prontas, mesmo trabalhando dentro da arqueologia tradicional do poema, o que torna tudo mais admirável. Soma-se a isso, a sua perícia em arquitetar uma poética que articula o excesso até a extrapolação – até o ponto de fissão metamórfica da realidade – e, ao mesmo tempo, suave como se nada se excedesse. Isso comprova sua vocação de mestre cabalista. Pois Edson não é um poeta de “achados”. O seu maior achado é aquilo que se deve levar para todo poema: a própria poesia. Ele tem aquela magia numérica fundamental aos poetas que não se aprende nem se ensina, mas se revela ou não.

Este livro, com suas mulheres de orelhas pequenas e que cheiram a incenso, sonha a leveza e a dureza em imagens claras e vigorosas, e consolida ainda mais a poética desse bruxo que é Edson Bueno de Camargo.

Márcio-André
Poeta, tradutor, professor e co-editor da revista literária Confraria do Vento."



“Antologia do I Concurso de Poesia Amigos do Livro / Flipoços de 2010”

Um dos maiores e dos mais prestigiados Grupos Editoriais do País, - o Grupo Scortecci em parceria com a GSC Eventos Especiais lança a “Antologia de I Concurso do Poesia Amigos do Livro / Flipoços de 2010” com poetas selecionados em concurso literário. O lançamento da antologia será realizado no estande do GRUPO EDITORIAL SCORTECCI na 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

O livro é resultado do Concurso realizado em âmbito nacional através do Portal Amigos do Livro, Portal Concursos e Prêmios Literários e da Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas. O objetivo do Concurso foi descobrir novos talentos e promover a literatura brasileira. Os 40 vencedores foram divulgados durante o Flipoços 2010 e a premiação resultou na divulgação das poesias em um livro antológico com as 40 poesias vencedoras.




segunda-feira, 26 de julho de 2010

4º CONCURSO LITERÁRIO DE SUZANO - Série Poemas Premiados

cabalísticos

mulheres que cheiram a incenso
não carregam cântaros de água
nos cabelos
não esperam os Ulisses que retornam
não tecem tapeçarias de Penélope
urdem crisálidas entre os dentes
como se sorrissem borboletas laranjas
dormem sob o céu de Mercúrio
e quando chove
dançam com serpentes cingidas à cintura


mulheres com orelhas pequenas
costuram a audição
em bordas de jarros de estanho
carregam nos pulsos sinais cabalísticos
estigmas de deuses ainda não nascidos
não enrolam o céu de estrelas
e não uivam para a lua

mulheres de pés azuis
não contam os dias
e não contam as horas
passam o tempo em buracos de minhoca
ao abrigo de buracos negros
não lavam os cabelos às sextas-feiras
não jogam amarelinha
que contêm inferno
coletam insetos miúdos em caixas de fósforos
e conhecem o outro lado da lua
mulheres da beira do mar
suturam redes com a seda retirada do baço
escamam peixes e os retalham
sem um reclamar sequer
não choram em enterros
e se vestem de azul por ocasião de luto
seus filhos respiram como se possuíssem guelras
e pés com nadadeiras
têm medo de altura,
mas não temem a água
costuram para seus homens fatos brancos
e se enfeitam com flores da mata
e quando a lua cheia cai em segundas-feiras
desprendem um suave cheiro de maresia

mulheres com olhos negros
conhecem a profundidade dos poços
se refletem em poças de água da chuva
sabem que o fogo vive
na alma negra do carvão
coletam libélulas para seu deleite
e as soltam vivas
rindo de suas revoadas
não costumam dizer mentiras
não falam muito à noite
nas luas novas buscam refúgio
na escuridão
quando amam
é normal se ouvirem trovões
à distância




4º CONCURSO LITERÁRIO DE SUZANO – Categoria Poesia – 1º lugar nacional - Associação Cultural Literatura no Brasil - Prefeitura de Suzano – Petrobras -2008;

Revista Trajetória Literária Número 04 - Pág 09

X PRÊMIO ESCRIBA DE POESIA – 2008 - Série Poemas Premiados

uma cigarra


uma cigarra
afina sua viola de jade
que em sua cor esmeralda
soa como botões de jasmim
em cinco pétalas brancas
com a alma amarela
outras flores e ramos de bétula

o som tem gosto de açúcar
sentido pela primeira vez
tomado em garrafas de néctar
e colherinhas de alpaca

a harmonia refrata tons verde metálicos
roubados das roupas de besouros
ao sol depois da chuva
emprestam sem saber as couraças
a voz ao instrumento
quando começa o cair da tarde

um grilo toca seu violino de cobre
que tomou ao enternecer à tarde
em uma febre de temer que noite caia
e nunca volte o dia

sapos acompanham com sua orquestra
de tímpanos, trompas e fagotes
concertando desde o lago

a cigarra em uníssono
o besouro e seus cornos de ouro e zinco
(cornucópia perdida aos seres)
o grilo e seu ofício
os sapos ferreiros a frio
(para o medo das fadas)

o azul se desmonta em bronze
o acaso do dia em naufrágio
as nuvens de algodão doce
os jasmins dormem á noite
quando não escutamos sua cor


o lago responde ao universo
contando suas próprias estrelas
mimo que se dá de presente todas as noites
pingos de luz no liso da água
e uma lua para poetas embriagados


X PRÊMIO ESCRIBA DE POESIA – 2008 - 2º lugar - Prefeitura do Município de Piracicaba, através da Secretaria Municipal da Ação Cultural - Piracicaba – SP – 2008;


X Prêmio Escriba de Poesia - Piracicaba - 2008 - págs. 19 e 20

PRÊMIO LILA RIPOLL DE POESIA – EDIÇÃO 2008 - Série Poemas Premiados

quartos de inverno


guardar folhas em casamatas
para os quartos de inverno
após a hecatombe nuclear

virar-se para o lado direito da cama
e mergulhar no esquecimento

observar o minguar de uma rosa em um copo
até que caiam as últimas pétalas

assim estar preparado para o poema
que cruza avenidas em tardes de inverno
esquece os caminhos dormidos
e recolhe o perfume das coisas já mortas





PRÊMIO LILA RIPOLL DE POESIA – EDIÇÃO 2008 – Menção Honrosa - Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul;


Prêmio Lila Ripoll de poesia 2008 - Coletânea de Poesia - Pág. 43

8º CONCURSO DE POESIAS DA UFSJ - Série Poemas Premiados

teluricomancias


ela é agora uma das mulheres da casa
ou mulher-casa
- assim se podemos dizer

esta combinação alquímica
de útero e terra
umidade e calor
entranhas de pedra candente
turmalinas mastigadas
teluricomancias
que aos poucos torna estas mulheres
antes novas
em luas cheias

(toda mulher é um vulcão domesticado
a guardar terremotos em seus zelos
e perigosos orgasmos)

são para a casa
outras e as mesmas
suas águas e suas telhas
o chão que se pisa e o céu sobre as cabeças
estas
que puxam cordões pelo umbigo
de onde tiram as fibras
ao qual se atam as meninas e depois os meninos
para que não vão embora
(e vão)
(rompendo em choro à suas partidas)



há das quais nos lembram como de janelas
e móveis
os gonzos das portas
retratos nas paredes
genealogias femininas
benzeduras
urdiduras e tessituras
os santos de toda a espécie (europeus e africanos, mais os que já estão com a terra)
fazem pelas suas bocas:
voz

(e estas também os homens tanto temem quanto amam)


8º CONCURSO DE POESIAS DA UFSJ - Poema classificado para publicação - Universidade Federal De São João Del-Rei – UFSJ - São João Del-Rei – MG – 2008;



8º Con. de Poesias da UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI - págs - 27 e 28

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Oliveira, Gracco - REFÉM DAS IDEIAS – Editora Celta – Diadema – SP – 2009



Oliveira, Gracco - REFÉM DAS IDEIAS – Editora Celta – Diadema – SP – 2009





Um livro para ser lido em uns quinze minutos, parece depreciativo, mas não é. O livrinho de Gracco Oliveira, em suas cinqüenta e poucas páginas, tem esta característica dinâmica, de uma fruição rápida, frases tomadas de assalto, de saca mais rápido. Uma pequena aventura literária que assim terminada, leitura de ponta a ponta, engatamos em uma nova, logo na seqüência. Poemas curtos, mas com grande densidade, laboriosos, trazendo a marca do esmeril de grande artesão das palavras. Alguns para ficar a pensar, dos quais destaco o poema “CALVINISTA”, de longe o meu preferido, que além de carregar grande significado é de uma beleza plástica ímpar, um ato lúdico das crianças soltas nas ruas de nossas cidades a se transformar em uma lição de filosofia. Tomando a lição de Gaston Bachelard, que em um de seus ensaios, atenta que o filósofo deve aprender com o poeta, que faz filosofia, mas com concisão de idéias. Ou mais ainda, uma construção a nos lembrar que a razão da arte, será sempre a de buscar o belo.

Textos bem humorados, críticos, narcisistas, políticos, sociais, costuram a leitura o tempo todo. Diadema tem sido um grande celeiro de bons poetas, ou um local de passagem da grande literatura. Gracco Oliveira vem a acrescentar mais um nome e com uma grande vantagem, é uma pessoa jovem, e portanto um poeta jovem, destes com a capacidade de ler mais e escrever mais, se aprimorando a cada dia. Gracco não é destes nossos escritores que ficam presos a fórmulas e repetições intermináveis. Não há como definir de imediato o que são: micro-contos, crônicas, prosa poética, ou tudo isto junto, e ao mesmo tempo e agora. Faz o uso de uma linguagem mais solta, mas sem deixar de ter um compromisso com a linguagem. É fiel as estruturas da língua e acrescenta um tom coloquial em certos momentos. Metalingüístico, dialoga com o leitor o tempo todo, e faz uma advertência ao final de sua apresentação pessoal, “Não pague o resgate”, a qual não sabemos se devemos obedecer ou não. Estará o poeta, eternamente preso e refém das idéias? Ou quer que o leitor se liberte de idéias preconcebidas através da poesia?



(Para saber mais de Gracco Oliveira  -  
http://refemdasideias.blogspot.com/)

PRÊMIO LITERÁRIO CANTEIROS CULTURAL 2007 - Série Poemas Premiados

sucumbiram


tranquei uns gemidos em gavetas
e uns sussurros em caixas de papelão

no sótão tem objetos que ocupam (as caixas)
estas que se acumulam
e se devoram

guardar lembranças
é matá-las em sua essência
colocar o sumo da memória em estanques
Psique peregrinando entre os templos de Demeter


quartos de guardados são cemitérios de almas
não há paraíso para reminiscências
há sempre improvisos de inferno
tentação de olhar para trás

(sucumbiram Orfeu, a mulher de Lot, as vítimas da Medeia)

há sempre o risco de se tornar uma estátua de sal




PRÊMIO LITERÁRIO CANTEIROS CULTURAL 2007 – classificação para publicação em antologia – realizado por: Portal Cultural www.canteirosdeobras.com e a Canteiros Editora – Niterói – RJ – 2007;



(Infelizmente o livro da antologia ficou só na promessa.)

3º CONCURSO NACIONAL DE POESIA - COLATINA 2007 “PRÊMIO “FILOGÔNIO BARBOSA” - Série Poemas Premiados

serpentário


a língua da jovem
parte-se em dois gumes
fino aço do sangue
peçonha do ferro e do corte

a doença da criação
é o vírus da destruição
a morte tem dentes agudos
pedras vivas em alvura

aquele que vive entre serpentes:

sibila







esquisito



ao primeiro sinal do dia
buscar os vestígios de luz que despontam
na sola dos pés

plantações de delírios nas soleiras da porta
limites entre a noite anterior e o dia que vislumbra
fronteira entre o sono e o sonho

em língua espanhola
esquisito significa gostoso
esquisito é chamarem cabelos de pêlos
assim não saber quais pêlos afagar
ou que lábios beijar




3º CONCURSO NACIONAL DE POESIA - COLATINA 2007 “PRÊMIO “FILOGÔNIO BARBOSA” - 2º lugar com o poema “serpentário” e Menção Honrosa com o poema “esquisito” - Prefeitura Municipal de Colatina – através da Superintendência de Cultura - Colatina - ES – 2007;






Concurso Nacional de Poesia - Colatina ES - eBook - 2009 - Antologia dos concursos 2006,2007,2008

17º Concurso Nacional de Poesia "Helena Kolody" 2007 - Série Poemas Premiados.

gelo entre os dedos


aqui enterrei meus mortos
nesta cidade de telhas claras
e a linha do céu não se define no cinza
onde o oco da terra abriga
coleções de esqueletos brancos

ali plantei uma árvore de carne
(em homenagem ao pai mais antigo que o outro)
que serviu de suporte a meus ossos parcos
e nela jaz enforcado um cão ainda em agonia
todo o sangue obliquo de crianças vingadas
e cabelos de cascatas de cometas

há um grito surdo de mortes precoces
inocências imoladas em campos de batalha
aqueles que carregam pedras de gelo entre os dedos
e uma agonia antiga e intacta entre os dentes

um barril repleto de braços amputados, mãos
e orelhas e narizes decepados a facão
ampulhetas de linfa coagulada e reduzida a pó
pedras de peixe ( fortuna escondida no porão)
retratos de lordes emoldurados com pele humana

há um urro indolente de tesouras de aço enferrujado
prata e ouro enredados em fina tapeçaria
um coro de choros incontroláveis de mães em praça pública
em cidades sitiadas
em muros de vergonha
e campos sem cultivo
que na falta de justiça se referem a vingança com graça e apreço
há um rio que corre destes olhos
água agourenta e salgada
que devora como ácido
toda a alegria e esperança





17º Concurso Nacional de Poesia "Helena Kolody" 2007 – Menção Honrosa - promovido pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, através do Setor de Editoração – Curitiba – PR – 2007;



Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody - págs - 36 e 37

24º Concurso Literário Yoshio Takemoto - Série Poemas Premiados

fiandeiras


trezentas fiandeiras e suas rocas
fiam que fiam o rio em azul
esticam sua margem em veias nervuras
e cardam o fio de tecer o futuro

trezentas tecelãs e suas lançadeiras
tecem que tecem o horizonte
o azul vai se misturando ao ouro
e tramam o tecido de água e céu

trezentas costureiras e suas tesouras
cortam que cortam o pano azul
costuram o céu com linha e agulha
e para suas filhas cosem vestidos

trezentas meninas e suas brincadeiras
dançam que dançam em seus ornamentos
vergam trajes azuis que lhes acondicionam
e vestidas de água passeiam no ar










24º Concurso Literário Yoshio Takemoto - Menção Honrosa - promovido pela Associação Literária Nikkei Bungaku do Brasil - Categoria Poesia em Português (Poesia "Fiandeiras") – São Paulo – SP- 2006;



Revista Brasil Nikkei Bungaku n.º 25 - pág 16

segunda-feira, 19 de julho de 2010

I Prêmio OFF FLIP de LITERATURA - Paraty - RJ - 2006 - Série Poemas Premiados

de um fragmento


1_

de um fragmento de osso produzir a agulha
para costurar as palavras no céu da boca
e com cuidado arrancar as estrelas
que insistem em ficar entre os dentes

desfiar o lóbulo da orelha
com estilhaços de vidro
e urdir uma escuta refinada com aço cirúrgico e ouro

2_

descobrir que a palavra desejo
não se agrega com pouco barro
e produzir o estrondo secular
das pernas traseiras dos grilos

colocar dois dedos na vagina
úmida e quente
e testar a temperatura das fogueiras
que queimaram o dom e o prazer do ser feminino

que ser homem é carregar a aspiração
de sempre retornar a úteros escuros
descer as mais profundas fendas e cavernas
e que morrer é se vestir de terra
para que uma mãe telúrica venha nos afagar os cabelos

3_

olha como choram os meninos apartados
como colam os dedos e arrancam a pele sem meditação
que arranham o couro do peito
feridos de tanto sal e sol

e retalham o horizonte com tesouras sensatas
e puxam fio a fio produzindo um novelo
recozendo o céu com agulhas de ossos humanos



I Prêmio OFF FLIP de LITERATURA - 1º lugar– Paraty – RJ – Gênero Poesia – Tema TERRA – Categoria Nacional - iniciativa da OFF FLIP - Circuito Paralelo de Idéias e conta com o apoio da Secretaria de Turismo e Cultura de Paraty - Paraty – RJ – 2006;



Páginas 98 e 99

IX EPOM – ENCONTRO DE POESIA DE MAUÁ – SP - 1985 - Série Poemas Premiados

Poema de Amor para Cora Coralina

o longe
se torna luz
que se dispersa
no meio

que fulge o tempo
e as águas

o rumo
do rito
de ter amor

na cor
das dobras
de tua velhice

mas que torna em
juventude imorredoura
na eternidade

que é o momento
que fica
na memória pessoal
e na verbal
do povo que vive

a história e a vida
o suor e o trabalho
a dor e a alegria

do amor
que não morre
apenas dorme
para despertar
a qualquer instante ...




IX EPOM – ENCONTRO DE POESIA DE MAUÁ – SP - 2º colocado – organização da Comissão Municipal de Festejos – C.M.F. e Biblioteca Municipal “Cecília Meireles” da Prefeitura do Município de Mauá - Mauá – SP – 1985

Prêmio Literário - Cidade Poesia. 2010

Antologia do concurso, tem um poema meu na página 62 do livro.

domingo, 18 de julho de 2010

Diário do Grande ABC - 18 de julho de 2010



http://www.dgabc.com.br/News/5821678/leitor-ainda-longe-do-digital.aspx

Resistente, mas nem tanto

Sara Saar
Do Diário do Grande ABC


Muitos não trocam a obra convencional por nada. Este é o caso do escritor de Mauá, Edson Bueno de Carmargo. "(O e-book) é mais uma ferramenta. Um veículo que veio para ficar. Mas não acredito que substitua o livro convencional", opina. E completa: "Existe também uma relação tátil: pegar, abrir e folhear o livro. Até cheirar o papel. O livro mexe com todos os sentidos, o que o meio eletrônico não faz".
Os benefícios de publicações virtuais são inúmeros, conforme reconhece Camargo: "No meio virtual, não há fronteiras. Para a literatura já não existem, mas ficam ainda mais dissolvidas na internet. Você acaba sendo lido em todos os continentes".
O escritor acabou de colaborar com o caderno-revista independente de literatura, intitulado 7faces, que está na segunda edição em meio eletrônico e tem distribuição gratuita.
O convite surgiu do Rio Grande do Norte por meio do editor Pedro Fernandes. "Tenho material literário exposto na internet (são dois blogs: Uma Lagarta de Fogo e Inventário de Naufrágios). Existe uma rede muito forte de escritores na web. Vamos trocando figurinhas, críticas", aponta.
Camargo enviou alguns poemas contemporâneos, que se caracterizam pela liberdade temática e estrutural, e teve três deles selecionados para a edição que pode ser baixada (www.set7aces.blogspot.com).
Enquanto aproxima, a internet também distancia as pessoas. Tudo depende do ponto de vista. "Pedro Fernandes é um escritor com quem eu provavelmente nunca terei contato pessoal", constata. Mas frisa: "Se a impessoalidade é ruim, a facilidade de contato por outro lado é muito grande".
O escritor de Mauá possui três livros individuais esgotados que depois foram disponibilizados na internet para download gratuito. "Muitas outras pessoas já os leram", diz.
Em contraponto, o poeta conhece escritor que não chega nem perto do computador. Tem aversão mesmo. Para ele, "o computador está incluso no processo criativo. Influencia. Não tem jeito".


quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sobre a função do poeta.




“...

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

...
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!”
No caminho com Maiakóvski, Eduardo Alves da Costa, Editora Círculo do Livro, 1988, página 40

“Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar.”

Martin Niemöller - pastor luterano alemão, da época do nazismo





Há uma coisa que acontece em minha cidade que me incomoda deveras, para as pessoas comuns e normais presas ao seu cotidiano selvagem, isto não significa nada, nem se dão conta do que lhe tiram à surdina. Já fui chamado de louco e intransigente, mas imagino que o crescimento do sentimento de ódio nacionalista e racista na Alemanha nazista, deve ter ocorrido dentro de princípio muito parecido. Há alguns anos atrás, o juiz-diretor do Fórum de minha progressista cidade, Mauá - SP, apartou um pequeno pedaço de terra pública e criou um início de feudo. Fechou um espaço público, pertencente à municipalidade, que na época era uma passagem natural muito usada pelos munícipes, de trânsito mais fácil, em especial aos transeuntes com necessidades de locomoção, um local que contava com maior acessibilidade. O bloqueio foi aceito de maneira bovina pelo então prefeito, e seus bajuladores, advogados-procuradores que deveriam cuidar da legalidade, mas estavam mais preocupados com o emprego (pessoas sensatas), estes aplaudiram a iniciativa, uma vez também, que não seriam afetados, pois nunca foram pedestres. Lentamente, primeiro com fitas amarelas e pretas, mais tarde com uns cavaletes, depois com uma cerca de aço, foi se consolidando algo como um mini muro de Berlin. O certo é que o fórum de minha provinciana cidade, no melhor estilo “apartheid”, agora tem uma entrada exclusiva para advogados e funcionários do fórum. Como se os cidadãos comuns, não dotados do diploma de Direito, fossem menos cidadãos que os doutores, em frontal desrespeito à Constituição e seu princípio de igualdade. Hoje vejo uma área pública, que deveria ser de uso comum pela rés-pública, ferindo o conceito republicano de ir e vir. O público reservado a apenas alguns privilegiados.

As pessoas se acostumam com uma coisa, e passam a pensar que ela é certa e normal. É assim que se forma um pequeno pedaço de tirania, que como o óleo, contamina a água, bastando uma pequena quantidade para destruir um manancial. Assim é com a intolerância, o preconceito e a destruição das liberdades. É uma construção lenta e gradual. Os acontecimentos do dia para a noite, levam anos de fermentação.


Fosse a minha pessoa um sujeito sensato, permaneceria calado, mas não sei ser assim, seria mais feliz do contrário, teria menos problemas, menos desafetos. Tenho pago o preço por minha boca grande e o excesso de zelo com aquilo que tenho como certo. Se nos guiarmos pelas palavras do dramaturgo irlandês George Bernard Shaw - “O homem sensato adapta-se ao mundo. O homem insensato insiste em tentar adaptar o mundo a si. Sendo assim, qualquer progresso depende do homem insensato.” – quem sabe em minha insensatez esteja fazendo algo pelo progresso de minha cidade e por reverberação e sincronicidade, ao universo.

Como podemos querer um projeto para um país melhor, se conceitos arcaicos e medievais ainda permanecem no pensamento de nossas autoridades? Parece que nunca vamos nos libertar da escravidão e sua moralidade escravista, esta psicose neurótica que está grafada na alma do brasileiro, um sadismo sem tamanho contra o mais fraco. Este de pensar a sociedade em castas, dominada por uma pseudo aristocracia, que se assenta sobre a coisa pública, como particular, em apropriação indevida e ilegal. Como exigir de nossos jovens, o agir com respeito às Leis, quando aqueles que deveriam dar o exemplo, lhes ensinam todo o tempo a usufruir de suas prerrogativas, e não se comportar como empregados do povo, coisa que de fato o são.

E neste momento, podem me perguntar o que um poeta ou a poesia tem a ver com isso? Lembro que no ano de 2006 na Escola Livre de Literatura a atriz Mônica Rodrigues, nos deu para ler um ensaio do Elias Canetti muito bom, que integra o livro “A consciência das palavras”. No texto de nome “O ofício do poeta”, Canetti revela seu incômodo em encontrar o escrito de um autor anônimo, datado de uma semana antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial. "Tudo, porém, já passou. Fosse eu realmente um poeta, teria necessariamente podido impedir a guerra". A partir dessa assertiva, que inicialmente chega a irritá-lo pelo tanto que revelaria de pretensão, Canetti constrói uma longa e acurada reflexão sobre o papel do poeta. "Graças a um dom que foi universal e hoje está condenado à atrofia, e que precisariam por todos os meios preservar para si, os poetas deveriam manter abertas as vias de acesso entre os homens", afirma ele, em certo momento entre outras coisas sobre a compaixão. De repente me olho no espelho e além do velho que vejo, vejo o poeta que vive por trás de meus olhos, que me encara com desesperança. Penso que a universalidade é inerente do ofício que escolhi, ou pensando melhor, ofício que me escolheu. É fácil se indignar com o muro que separa a Jerusalém dos palestinos pobres dos judeus abastados, da cerca que segrega a América Latina dos irmão ricos do Norte, mas o muro no quintal de minha casa é fácil de esquecer.

Pois há um muro ou cerca de ferro, ou qualquer outro subterfúgio com o intuito de separar os pobres, os analfabetos, os negros, dos homens bem nascidos ou estudados, e isto está a um quarteirão de minha casa. O que dói em mim, não é o muro, mas a indiferença com que este está posto. Vejo pessoas idosas e com dificuldades de locomoção andando muitos metros a mais, em uma calçada cheia de imperfeições, na beira de uma perigosa avenida, respirando gás de escapamento, tendo de subir e descer escadas; enquanto os togados, usam o espaço que deveria ser uma passagem mais segura e natural, para guardar seus carros caros em meio às árvores e a tranqüilidade.

Fosse eu realmente um poeta, teria necessariamente podido impedir tudo isso. 

terça-feira, 6 de julho de 2010

2a. edição do Caderno-revista 7faces -


Já está disponível para baixar a 2a. edição do Caderno-revista 7faces.



A edição vem com textos dos professores Márcio de Lima Dantas e Maria Lúcia de Amorim Garcia, meus convidados que homenageiam a poética de Jorge Fernandes; e de Carlos Augusto Cavalcanti, César Augusto Rodrigues, Clauder Arcanjo, Daniel Morga, Darlan Alberto T. A. Padilha (Dimythryus), Edson Bueno de Camargo, Eloisa Menezes, Jorge Humberto, José rOgério Dias Xavier, Kalliane Sibelli, Marcelo Moraes Caetano, Mário Lúcio Barbosa, Renata Iacovino, José Antonio Rodrigues Júnior, José Rosamilton, Tino Portes, Valquíria Gesqui Malagoli, Vinícius dos Santos, poetas que, por excelência, foram eleitos a compor esse número.

A partir dessa segunda edição, o caderno-revista se vincula oficialmente a uma outra ideia posta na rede assim que do lançamento da primeira edição: o Selo Letras in.verso e re.verso. O Selo Letras in.verso e re.verso foi criado devido ao número significativo de edições virtuais lançadas nos dois últimos anos pelo espaço Letras in.verso e re.verso. Logo, além do espaço 7faces (set7aces.blogspot.com) a ideia deverá ficar exposta para ser descarregada também no espaço do selo (seloletras.blogspot.com).


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Na página da revista também conferem uma chamada especial que está aberta até o dia 30 de novembro de 2010 e que será composta por textos acadêmicos acerca da poesia de José Saramago.

Organização: Pedro Fernandes de O. Neto

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Ouvindo - cello suite no.1, bwv 1007 in g major - i prélude - Johann Sebastian Bach .




Poderia ouvir as suítes para violoncelo de Bach por dias inteiros e não me cansar desta música que enche a casa, mesmo tomado de uma nostalgia estranha, mesmo vertendo lágrimas como uma fonte. Existem sensações que ao serem explicadas perdem sua magia. Há um prazer inexplicável, provavelmente dentro desta zona de irracionalidade que ainda carregamos em nosso âmago. Na intimidade absoluta somos muitos mais animais do que queremos ser ou que podemos. Um lugar onde não cabem freios e travas morais que nos impõem desde que nascemos. Recentemente cheguei a brilhante conclusão que o que chamamos de selvageria, na verdade é nosso comportamento real, se não encararmos a fera de frente, e mostrarmos quem manda, não domá-la com a mansidão de um carrasco, corremos o risco da fera nos tomar o lugar, e ela vai sair por ai fazendo barbaridades, vivendo só pelo valor monetário, e só assistiremos de dentro dela.

Ouvi dizer que a música atinge os recônditos do cérebro, ativa os neurotransmissores ainda na parte animal, antes mesmo de chegar ao córtex e toda sua parafernália racional. Desconfio que a poesia também está para nosso lado animal e réptil, antes da racionalização cerebral. A poesia nunca se divorciou realmente da música, só tomou a palavra por instrumento, ali ainda estão o som e o ritmo. O homem serve de cavalo para seus bichos, a sopa caótica do inconsciente. A poesia não é racional, por isso não aceita cabrestos de qualquer espécie. O poema ao ser levado para o laboratório, provará que só conseguiremos dissecar um cadáver, a poesia já morreu nele. Não resiste ao frio mármore da mesa de necropsia.

A sociedade civilizada só fez aperfeiçoar armas, até atingir seu ápice, a capacidade de não só dizimar seus inimigos, mas também a si mesmo.
A sociedade de consumo, tem replicado modelos de produção baseados em uma fonte inesgotável de recursos naturais que não existem, não só isto, mas no processo de produção vem destruindo recursos que sequer serão utilizados. Insolitamente agimos como o gado que comemos, urinamos na própria água que bebemos. A utopia do capitalismo é a de que só alguns serão eleitos, portanto ficando os mais fracos para trás, é uma corrida suicida, onde a solidariedade desaparece. O nazismo não teria sido tão eficiente.

Neste cenário desolador, ouvir uma composição de um músico barroco, é profundamente anti producente e necessária. Parar para reflexão pode ser algo tão rebelde quanto um ato terrorista. Os poetas são terroristas da alma, quando se ocupam não só de fazer algo inútil para si, fazem algo inútil também para a sociedade. Toda poesia é um ato político, ao se abster de fazer política, ao ser anarquista, ao não se alinhar com os governos, quaisquer que sejam. A poesia é amoral, ao se imiscuir na moralidade tacanha e retrógrada, é sexual ao ser libertária, é apostata ao não se ajoelhar diante de deuses oficiais, ao oficiar para deuses da floresta no asfalto, e deuses da construção em meio aos bosques. É dialética sem discutir filosofia, é duplamente analógica, mesmo correndo por veias digitais.

Os poetas não querem a construção do novo mundo, querem o mundo do sonho agora. E se ele não existir vão construí-lo, mesmo que para isto tenhamos que destruir o velho, para que o novo nasça do esqueleto do velho, como Odim usando o corpo dos gigantes vencidos para fabricar o mundo.

E toda esta conversa é só a casca racional que tenho que arrancar de minha psique, camadas e camadas, como se fosse uma cebola, até atingir o que de fato é importante, o rizoma criativo, que faz brotar poemas que me assaltam quando eu menos espero. Esta serpente emplumada que habita nos vulcões de meus sonhos, e lambe as palavras com todo o cuidado, e coloca seus ovos atrás de meus olhos. O réptil primeiro que está no centro de meu cérebro, a espécie animal que inventou o amor e o cuidado com os filhotes, a criatura que fala com voz de trovão em nosso coração e equivocadamente acreditamos que seja deus. São muitas vozes para quem sabe ouvir, o som primevo do mundo a criar as coisas. Os que não mais as ouvem são mais felizes, mas também são mais pequenos em seus espíritos e nunca serão verdadeiramente livres.

No mundo dos homens racionais sou um total fracassado, é no mundo dos sonhos que realmente sou o que sou. Serpente com palavras e fogo, as letras que montam o verbo que tudo inicia.

Na poesia meus olhos vêem para dentro, e aqui estão todas as coisas.