quarta-feira, 27 de maio de 2009

Convite (para todos) e convocação (para os membros da Taba).

Domingo agora, dia 31 de maio de 2009, a partir das 15h00, acontecerá a Oficina de Poesia do Grupo Taba de Corumbê no Teatro Municipal de Mauá. Estes encontros tem acontecido regularmente e o próximo será dia 14/06/2009; marquem na agenda.

Encontro em clima descontraído, mas com muita seriedade, com o objetivo de reforçar os laços de amizade dos escritores da cidade e convidados, além de análises e troca de informações sobre nossa língua, poesia e literatura. Tragam seus poemas para leitura, e ou se estiverem preparados, para realização de analise pelo grupo. ( Trazer umas vinte cópias dos textos para distribuição e leitura entre os participantes.)

(Domingo, 31\05\2009, das 15H00 às 17H00)
TEATRO MUNICIPAL DE MAUÁ
Rua Gabriel Marques, n.º 353 - Centro – Mauá – SP (Acesso também pela Avenida João Ramalho, 456.)



Maiores informações:.

camargoeb@ig.com..br

http://tabadecorumbe.blogspot.com

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Roda de conversa com o escritor José Geraldo Neres, Câmara Municipal de Mauá.

23 de maio de 2009, sábado (gratuito)
Horário: das 18h à 19:30

Roda de conversa com o escritor José Geraldo Neres
e Lançamento do livro: Outros silêncios

Apresentação/Mediação pelo poeta Edson Bueno de Camargo

O autor, Leitor, Influências e Processo criativo.

Local: Câmara Municipal de Mauá
Av. João Ramalho, 305 - Vila Noêmia, Mauá - SP
Informações: (11) 4512-4500, 4512-4539, 4512-4519

domingo, 17 de maio de 2009

ENTREVISTA DO POETA EDSON BUENO DE CAMARGO CONCEDIDA AO JORNALISTA ARISTIDES THEODORO





Aristides Theodoro - TH - Edson Bueno de Camargo, para início de conversa, alguns poetas de Mauá, vem se destacando nos últimos tempos e arrebatando Prêmios valiosos em várias latitudes e longitudes destes brasis. Tais como você, Iracema M. Régis e Jorge de Barros.
Gostaria que me falasse um pouco disso. Afinal, no seu caso específico (o mais premiado), você se considera um gênio? Uma espécie de bam-bam-bam da vila? Trabalha muito, participa de todos os concursos ou qual o segredo da coisa?...Ou afinal, debaixo deste pirão tem godó?...

Edson Bueno de Camargo - EBC. – Primeiro, tive de fazer uma pequena pesquisa etimológica para descobrir o que é godó, para saber que na Bahia há uma distinção entre o pirão feito de farinha e o feito com banana-verde. Godó é pois, pirão de banana-verde, feito com carne na Bahia e com peixe pelos caiçaras paulistas.

Segundo, não me acredito melhor que ninguém, acredito que tenha mais prêmios por que concorri mais. Na artilharia militar se diz que se acerta o alvo por duas razões, uma por precisão e outra por saturação, se atira tanto que uma hora se acerta.

Prêmios e concursos literários são como uma espécie de loteria, existem diversos fatores que os regem e a lógica, não é um deles. O que não funciona também é o sujeito entrar com uma poesia concretista num festival de poesia matuta, ou vice-versa, é certo que não dará resultados. Por outro lado, acredito que minha poesia está mais madura e senti a necessidade de testá-la de alguma forma, os juízes dos concursos são menos gentis que os amigos, e não estão ali para nos agradar. Alguns prêmios foram realmente importantes, como o OFF-flip de Paraty e o Helena Kolody no Paraná (que já premiou algumas feras), o que nos faz acreditar que devemos estar mais ou menos no rumo certo. É claro que mexe um pouco com nossa vaidade, uma coisa que me deixa muito feliz é que no primeiro Off-Flip, havia dois pés de barro na final, meu poema em primeiro e o do Jorge de Barros em quarto, entre representantes do Brasil inteiro e até de fora, faz pensar melhor no que se produz em nossa cidade.

Quanto à genialidade, cria-se aqui um grande complicador, pois não acredito em genialidade na arte, acredito em estar sempre estudando, aprimorando-se, lendo muito.O próprio sentido na origem da palavra arte, tanto quanto do da palavra poesia, quer dizer trabalho realizado. Não funciono com inspiração, portanto, todo poema para mim é um grande desafio. Existem pessoas em processos diferentes de escrita, existem estilos diferentes e maneiras diferentes de se expressar. Engana-se quem fala que este ou aquele estilo é o correto. A verdadeira poesia é um processo alquímico, como nos diz Rimbaud, que nos transforma de dentro para fora. Não acredito que seja possível uma única verdade na poesia.

TH – Você nasceu em Mauá?...

EBC- Tudo em mim se refere a Mauá, fui concebido e fabricado pela minha mãe nesta cidade, portanto meus elementos primordiais são oriundos de Mauá, a água que preenche meu corpo veio das minas da velha Vila Vitória, meu eu mineral é mauaense. Cresci dentro de minha mãe rodeado por uma fábrica de porcelana de Mauá. No entanto no momento de meu nascimento, não me encontrava aqui, por uma contingência nasci na Rua Senador Flaquer em Santo André, em um Hospital que não está mais lá, o Pro-Matre. Nasci andreense e fui registrado no mesmo cartório que o poeta Zhô Bertolini.

TH – O que você acha dos movimentos poéticos em Mauá, dos quais você vem participando desde o Colégio Brasileiro de Poetas?...

EBC – Mauá tem uma história de pioneirismo, muitas e muitas coisas aconteceram aqui primeiro, o Fora-Collor, o movimento contra a carestia, o primeiro caso de gripe suína em São Paulo, e por ai vai. Aqui surgiram ou se manifestaram grandes escritores e artistas, mas afora este pioneirismo, parece que sofremos a maldição de recomeçar eternamente. Fazer arte na cidade parece uma tapeçaria de Penélope, o que se fia em um dia, se desmancha à noite, para se fiar de novo no outro dia. Por um estranho mistério não criamos referências.

Minha experiência no Colégio Brasileiro de Poetas, que vamos ser sinceros é um nome pomposo e muito pretensioso, foi muito rápida, era muito jovem e o Colégio agonizava, aprendi muito com o poeta Castelo Hanssen, foi o primeiro lugar que tive contato com a poesia viva, fora dos livros. O que me incomoda é que muitas coisas boas foram realizadas, no entanto no processo histórico parece que não se criaram sucessores. Aos olhos dos mais novos é como não se existisse nada e tudo tivesse de ser realizado. Há um passado glorioso, mas não há futuro.

Creio que não só eu tenho participado de tudo que se faz em nome da literatura na cidade, mas uma meia dúzia de teimosos que sempre marcam cartão. Temos uma dívida com o Guilherme Vidotto Jr. e seu mestre o Luis Alberto de Abreu, que reuniu na Oficina Aberta da Palavra pessoas de diversos segmentos, o que acabou agregando várias pontas soltas, e gente mais jovem que vinha chegando. Isto possibilitou o Taba de Corumbê, que esta ai. Balança mas não cai.

TH - A seu ver, o poeta deve transmitir alguma mensagem, como La Fonteine nas suas fábulas, ou deve fazer unicamente a Arte pela Arte?...

EBC – Nem uma coisa nem outra. O poeta, não importa que poesia ele faça, não está desconectado com o mundo que o cerca. Elias Canetti diz que o poeta é o cão do mundo, e é o que penso também, mesmo que de uma forma inconsciente somos arautos do novo porvir, criadores de utopias, saudosistas desenfreados de um tempo idílico (que quase sempre nunca existiu). E tudo isso não vale uma moeda de cinco centavos de cobre, daquelas que ficam quase irreconhecíveis com o tempo.

Pessoas que tentam transmitir mensagens construtivas e lições de moral em suas obras, acabam por cair em uma pieguice sem fim, ao mesmo tempo existe um patrulhamento ideológico que taxa de panfletária toda e qualquer obra que toque nas questões sociais do país. Já vi frangotes mal saídos da USP, fazendo versos imitando o Haroldo de Campos, sem a menor qualidade ou compromisso, “dando o pau” em Neruda (ou mesmo Drummond) pela “irregularidade” de sua obra, e na sua opção pelo engajamento político. Patativa do Assaré nunca teve uma carteirinha do Partidão, nem teve um nítido direcionamento político, mas sua obra é um libelo do sofrimento de seu povo. Pound fala em antena da raça, nós o somos mesmo quando não percebemos, e digo que são todas as pessoas, o poeta é aquele que por uma razão misteriosa está mais sintonizado.

TH - Os pitacos da crítica te incomodam?...

EBC – Adoraria receber um crítica autorizada, oficiosa, em um jornal ou coisa assim. Se falassem de mim, mesmo que mal, é sinal que estava incomodando. Vivemos em uma época, que se você está fora da mídia é como se não existisse. Mas invisibilidade à parte, existem críticas e críticas, faço uma obra aberta, de forma nenhuma acabada, ela só existe se o leitor se apossar simbolicamente do que está lendo. Existem bons amigos que apontam inconsistências e outras possibilidades de verso. Existem pessoas que só querem fazer polêmica sem construir nada.

Incomoda-me donos da verdade, que nunca encontram o que os satisfaça, só é certo o que eles fazem, ou você se torce à sua verdade, ou não vale nada. Existem dois tipos de donos da verdade e não sei qual é o pior. Um é o que vive pela forma clássica, que só Petrarca sabia o que estava fazendo, versos sem rima e métrica não são poesia, os parnasianos é que eram os bons, etc. etc. O outro igualmente chato e equivocado, é aquele que traz a última moda de Paris ou Nova York, que traduziu aquele poeta obscuro do Azerbaijão, que só ele conhece, mas que vai revolucionar toda a poesia, e que tudo o que existiu antes não tem nenhum valor. A poesia é muito maior do que nós e nossas pretensões, bebo do surrealismo o que ele pode me dar, em Gregório de Matos que tem muito a ensinar, tantos outros exemplos que tornariam esta dissertação em um enumerar de nomes infinito, e os poemas despretensiosos e maravilhosos de uma Dona Mariana Canova por exemplo.

TH – Sofre influência de alguns escritores? Se positivo, quais deles?...

EBC – O poeta Cláudio Willer, para começar a citar, fala que toda a escrita é intertextual, quer dizer, um texto sempre se origina em outro texto e assim sucessivamente. Então a partir deste princípio tudo o que escrevemos é influenciado por outrem. Mesmo quando não temos a consciência exata disto. Meu primeiro contato com a poesia, foi a minha vó materna recitando Olavo Bilac e Rui Barbosa, isto afinou meu ouvido para a poesia. Sou um leitor sem o menor direcionamento, leio tudo que me cai às mãos, e tudo o que acumulo em meu subconsciente é matéria prima para minha poesia. Posso afirmar então, que o tiozinho falando de sua vida ao amigo no trem influencia minha obra. Existem poetas primordiais, e impossíveis de não serem citados: Cecília Meireles assombrou minha adolescência; Castro Alves e Casimiro de Abreu deixaram suas marcas; Mario Quintana e seu poema faca e ternura; Castelo Hanssen e sua poesia triste e muito bem realizada; os portugueses Herberto Helder e Mario Cezariny; a prosa de Érico Verissimo; Cora Coralina que tudo transformou em poesia, Cezar Vallejo e sua poesia andina e feita de velhas índias e pedra, Victor Jara e os cantores andinos da Nueva Cancion Chilena. Fora que estou preparado para ser influenciado a qualquer momento, gosto de tudo aquilo que me toca.

TH - Escreve a quanto tempo?...

EBC – Como a primeira coisa que posso chamar de poema escrevi aos treze anos de idade, posso dizer que escrevo a pelo menos trinta e três anos. É muito tempo para uma pura teimosia.

TH – Re-trabalha muito os seu textos ou vai querer me dizer lorotas, como o Guimarães Rosa , que dizia que os seus textos já vinham prontos, como se soprados por um anjinho barroco de bunda rosada?...

EBC – Existem poemas que nascem quase prontos, mas são muito raros, e mesmo estes precisam de uma burilada, sempre há uma palavra que sobra e outra que falta. Embora escreva parecido, não posso ser considerado surrealista exatamente por este detalhe, os surrealistas não admitiam quaisquer retoques. Há poemas meus que começam de um jeito e nunca se sabe no que vai dar. Há poemas que paro de mexer pelo cansaço, pois tem uma hora que devemos dar um basta.

Penso que poetas ou escritores que dizem que o verso já nasce pronto, sejam donos de uma memória prodigiosa, e re-trabalham a palavra dentro de seus subconscientes. Não é o meu caso.

TH – Quantos livros já publicou?... São todos de poesia?...O por que de alguns títulos compridos e inusitados de seus livros?...

EBC – Foram três livros individuais, pela ordem: “Poemas Do Século Passado – 1982-2000”; “O Mapa do Abismo e Outro Poemas”; o último “De Lembranças e Fórmulas Mágicas”, todos de poesia. Não existe um motivo em especial, no primeiro fiz uma brincadeira com a passagem para o século XXI, era um livro que precisava ser localizado no tempo; o segundo é um título de um poema e os outros poemas um material que agreguei no livro que achei que merecia ser publicado; o último trata da memória sensível, e que quase sempre é mágica pela visão da criança. Além do que a moda agora são títulos de uma única palavra que quase sempre não significam nada.

TH – O que acha do Movimento poético hoje desenvolvido em Mauá? As Oficinas de conto, poesia, hai-kai e História da Arte, ministradas por gente como o professor de filosofia, Paulo Hijo e as professoras Deise Assumpção, Vitória Paterna e o mestre Ubirajara Godoi Bueno?...

EBC – Não posso falar das oficinas de contos, pois por motivos de horários coincidentes, não freqüentei nenhuma. Mas os encontros de Domingo estão sendo muito proveitosos. Sinto falta da garotada mais jovem, que é menos freqüente, estes teriam mais proveito dos bate-papos. Sinto falta dos saraus no Museu Barão de Mauá, e de um movimento de fato, mas não sei exatamente o que. O fato também é que eu estou em um momento de influxo, e posso estar vendo as coisas pelo meu ponto de vista.

Preciso ouvir mais o Paulo Hijo para entender o que ele quer, percebo de antemão que nossas visões sobre a filosofia são diferentes, não necessariamente divergentes, mas de pontos de vista não lineares.

TH - Fale-me um pouco do FAC - Fundo de Assistência à Cultura de Mauá, onde você já fora contemplado duas vezes?...

EBC – È uma experiência muito válida, pois passa o dinheiro direto ao produtor cultural, se houvesse mais dinheiro seria melhor. Em geral as cidade tem leis de incentivo, onde há um mecenato intermediado pelo governo, mas é o artista que tem que correr atrás, no caso de Santo André por exemplo, o artista vira um cobrador e de impostos atrasados. O que é muito válido no FAC é ser um financiamento direto. Acredito que faltam alguns acertos, por exemplo, quase não são contemplados artistas plásticos.

Meus dois últimos livros só foram possíveis pelo FAC. Apresentei o projeto que foi aprovado e o resultado foi muito bom. Posso dizer que através de meus livros levei a cidade ao Brasil inteiro. Só tenho receio que o setor de finanças da Prefeitura cresça os olhos neste pouco dinheiro que vai para os artistas e tente dar outro destino ao mesmo.

TH – Qual a sensação em comandar culturas numa cidade como Mauá, coisa que você já atuou na área e sabe muito bem do que queremos falar?...

EBC – Foi só um ano, e no final do mandato, em meio a uma tumultuada transição. Se quer saber a sensação, é a de absoluta impotência, a de atuar em um setor que você sabe ser de suma importância, mas que não é devidamente valorizado. A primeira verba a ser cortada na crise é a da Cultura, sempre tem dinheiro para shows sertanejos, mas te falta uma lata de tinta para recuperar um praticável. As pessoas, e ai não excluo o povo, acham que cultura é prédio, uma biblioteca é inútil se seu acervo é defasado, um teatro é só uma casca vazia sem artistas e platéia. Nossos governantes, e aqui só excluo o falecido Celso Daniel, são muito ignorantes, pessoas muito bem intencionadas, mas de uma realidade que só vê o palpável, pedra é pedra, pão é pão, e sabemos que na arte as coisas não são bem assim. Infelizmente para pessoas ignorantes ou chucras o que elas não conhecem, não existe.

TH – Possui alguns livros inéditos, ou em preparação?... Se sim, quais os títulos e quando pretende publicá-los?...

EBC – Tenho três livros inéditos, “O Zen e a Arte de cultivar papoulas em noites de lua cheia em jardins a beira mar.” – hai-kais; “ (índex animi) O Espelho da Alma ou Poemas do Novo Século” – poesia; “Muitos Morreram por Esparta” – poesia, sendo que o último estou pensando em mudar o título para “Fel e Vinho”. Estou trabalhando no livro de poemas “Teluricomancias”, não sei se vou publicá-los, tudo é uma questão de oportunidade. Não tenho grandes ansiedades em relação à publicação, tenho publicado muito na Internet, em revistas literárias on-line. Tenho também dois blogues, um de poesia e em outro onde tento exercitar a prosa.

TH - Lê muito, quais seus tipos de Leituras?... Seus poetas prediletos?...

EBC – Leio de tudo o que me cai às mãos, jornais , revistas de literaturas, história em quadrinhos, de livro pornográfico à bula de remédio, placa de trânsito à placa de carro. Gosto muito de ler gente nova, de descobrir poetas que não são tão novos, mas que por alguma razão não conhecia. Leio muitos blogues na Internet, não gosto muito de ler romances ou crítica literária. Leio muita poesia. São muitos os meus poetas prediletos, existem poemas que são essenciais em minha vida. Mas posso destacar neste universo, Murilo Mendes, Mario Quintana, Paul Celan, Mário Cezariny e Herberto Helder.

TH – Que acha da região do ABC paulista (este ABC Paulista), muito ironizado por alguns sabichões, donos das verdades máximas absolutas da região? O paulista é para diferenciar de um outro ABC, um conjunto de cidades da grande capital pernambucana.

EBC – Tem um grande ABC no Pernambuco também? Oxe! A região do Grande ABC carece de uma identidade cultural, temos que quebrar o estigma de sermos vizinhos da Capital, onde tudo acontece segundo alguns sábios. Tem muita gente boa, grandes produtores, mas nada que nos agregue. As iniciativas são sempre isoladas e circunscritas a cada cidade. Fulano de Santo André não se mistura aos pobres de Mauá, que por sua vez é esnobado em São Bernardo que é caminho para São Paulo. Em Diadema se arrotam os únicos produtores de Cultura e Cidadania do mundo, enquanto iniciativas maravilhosas minguam aos olhos de todos, porque os novos governos não querem dar glórias aos que passaram. A cada quatro anos acontece uma hecatombe, onde todas as iniciativas governamentais voltam a zero, e recomeçam do nada. Junte-se a tudo isso os prefeitos chucros que citei anteriormente, e temos o quadro completo. O único jornal forte da região, talvez o mais forte jornal regional do país, fala menos da cultura local que o Jornal Sul de Minas, onde somos reverenciados pelo poeta Zanoto. Recentemente uma jornalista do Diário do Grande ABC disse que não existe cultura de qualidade na região. Enquanto isso os artistas da região ganham prêmios nacionais e estrangeiros sempre se valendo das iniciativas pessoais.

TH – Que me diz do livro bem confeccionado, com boa capa e desenhos condizentes?
Por outro lado, somos privilegiados. afinal, temos excelentes capistas e ilustradores no nosso meio, bem como revisores,diagramadores, etc.

EBC – Um livro é nosso melhor cartão de visitas, o seu conteúdo sempre deve ser mais importante que a aparência, mas um livro bem feito sempre atrairá a atenção de um leitor. O leitor deve sempre ser o objetivo final de um livro, um livro é para ser lido.

Não há dúvida que somos privilegiados, e que mostra um caminho a seguir, artistas de vários segmentos devem se conversar mais, um sempre poderá influenciar o outro.

TH - Bem seu Edson Bueno de Camargo, por que basta, “que ninguém é de ferro”, como dizia o grande poeta pernambucano, Ascenso Ferreira. Portanto diga uma mensagem de otimismo para os novos poetas e fica o restante de sua verborragia, para quando você receber o Prêmio Nobel de Literatura, ok?...


EBC – Não sou a pessoa mais adequada para dar mensagens de otimismo, pois sou um pessimista crônico. O que falo aos jovens poetas e escritores, é que leiam muito, e se leiam muito também, escrevam o tempo todo, e nunca se dêem por satisfeitos. Queiram sempre mais do mundo e de si mesmos.

Quanto ao Nobel, se contentem com o fato do Saramago ser um escritor de língua portuguesa, nunca um brasileiro receberá o Nobel. Os suecos não nos levam à sério.

Aristides Theodoro é escritor e jornalista e assina uma coluna no Jornal "A Voz de Mauá".

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Al-hurriya













Viola de cocho feitas pelo artesão Alcido Ribeiro dos Santos.

Apois pro cantadô i violero
Só há treis coisa nesse mundo vão
Amô, furria, viola, nunca dinhero
Viola, furria, amô, dinhero não... ”

Elomar (Elomar Figueira Mello)

Alforria (palavra composta:Árabe al + Francês feurre, livre) ou seria simplesmente a palavra árabe al-hurriya (a liberdade da qual temos forro, hurr = livre). – Fonte:. wikipédia.


Que coisa sem juízo estes versos que parecem tão simples, ao qual eu destaco o último, “Viola, furria, amô, dinhero não. ”. Do que mais podemos precisar?

“Viola” - A viola pode muito bem ser substituída pela palavra poesia, pois aqui se resume o ofício do cantador, que a sua maneira é um produtor de poesia, tradição que vem de tempos imemoriais. Cantar para o poeta, é algo além das suas veleidades, não conheço um único poeta, mesmo os mais arrogantes e donos das únicas verdades ( ou a última da moda), que não se postam diante da poesia em gentil humildade. A poesia é a senhora, nós cantamos, porque cantar é o que nos resta. Sem a palavra nem seria necessário ter boca. O bom poeta sabe que é voz, o som é a criação de tudo no universo.

“Furria” – O poeta Elomar toma a liberdade, de usar sua própria linguagem, cria uma palavra mais dócil, e de paladar agradável, mas não se engane, em uma única palavra pode conter-se muitas verdades. Mesmo usando um aparente neologismo, ou aqui neste caso, um antigologismo, uma vez que esta forma é muito popular nos nossos sertões, e desde quando (vamos saber, o povo fala a língua e a amansa bem antes do primeiro gramático ter nascido, ou pensado), o fato é que dando o seu palavrear muito particular, a palavra torna-se mais profunda. Alforria, é a liberdade que vem do árabe, a liberdade da qual temos forro, é a condição de sermos donos de nossa alma. Ao que se pese o corpo o tributo da morte, nossa alma é nossa, assim como nossa dignidade, e se não temos jugo, a dignidade também é nossa. Quem me dera um dia em meus toscos poemas conseguir dizer tanto com uma única palavra. E que valor tem as coisas se não temos liberdade, talvez paguemos um preço alto por nossa insolência, mas é preciso que sejamos livres até de nós mesmos. Livres de nossos desejos, livres diante da verdade. Só os que se despojam de suas jóias e aparatos sociais, conseguem andar pelo mundo sem se vergar ao seu peso.

“Amô” – Empédocles, em sua filosofia, dizia que o amor é a força que une todas as coisas. Os quatro elementos que constituíam tudo, eram ligados com a argamassa do amor. Sendo que este amor do poeta, é um amor sem possibilidades de retorno, sem necessidade de conciliações, é o amor puro e sem constrangimentos. É o amor de toda uma vida, é o que se devota aos amigos e à família. Só um homem livre pode amar verdadeiramente. Àquele que conta suas moedas o tempo todo, não sobra tempo para amar, e quando ama é um amor conspurcado pela cobiça, não ama uma mulher pelo que ela pode lhe dar de prazer, ama pela posse da pessoa como objeto. Tem uma relação infantil com a vida, achando que precisa ser compensado o tempo todo pelo que perdeu no passado.

O amor que realmente é importante, é o que cria a possibilidade de sermos amados.

“Dinhero não” – Ao que me pesem críticas à minha pessoa, que sou sossegado, pouco ambicioso, que nunca lutei pela vida de conforto que tenho. Tenho o que me basta, e isso é suficiente. E o que me basta é o que eu tenho, não preciso de mais nem menos. O dinheiro tem de ser uma ferramenta e não um fim em si mesmo. Vivemos em um limiar dos tempos, onde por conta de ganhar dinheiro o tempo todo e a qualquer custo, toda a natureza corre risco de ser destruída. Vamos dar de herança aos nossos bisnetos, leitos secos de rio, um grande deserto e montanhas de lixo. Pior ainda a solidão de nossa espécie, não teremos outros viventes por companhia. Parece que o ser humano não tolera a si próprio, mas está dizimando espécies que nem sequer chegamos a conhecer, só sobraremos nós seres humanos no mundo? Ainda pior que tudo isso, estamos matando a alma de nosso planeta, há um veneno que se implanta nas pessoas, que se tornam zumbis. Nós também fazemos parte deste frágil equilíbrio que é a vida. O meio ecológico do homem é a tecnologia, desde a lança com ponta de sílex e o fogo, nossa super-especialização pode ser uma armadilha para nossa extinção. O acúmulo de riquezas é algo artificial, tão ilusório quanto é tudo o que há na civilização. O poeta e o homem justo não devem querer além daquilo que os sustente. Tudo o que temos a mais é supérfluo, tudo além da palavra é peso que temos que carregar.

“Viola, furria, amô, dinhero não. ” – Três coisas nestes mundo vão, e a antítese que se coloca no fim da frase, sendo “não”, a última palavra, como um vaticínio, de se o cidadão do mundo tem as três coisas, ou a quarta não é necessária, ou virá no tempo certo e diante da necessidade justa. Cantar tem sido a grande necessidade de minha existência, a poesia é a única coisa com sentido, por não carecer de sentido algum. Apesar de ter seu preço, e tudo o tem, tenho o controle de meu destino, não saberia viver sem liberdade, um homem sem liberdade está pela metade. Um dia Diógenes sentenciou que se Arístipos, de Cirene, se satisfizesse com lentilhas não precisava bajular o rei, pois bem um homem que precisa de pouco está mais perto de ser livre do que o contrário. Fosse minha pessoa sensata, tivesse bajulado o rei de minha cidade, estaria ocupando hoje um bom emprego, o que seria justo pela minha competência e atuação, ao que sempre tento caminhar pela justiça, tenho que me virar com menos.

Lentilhas a parte, o amor poderia ser uma coisa complicada, não para mim, pois encontrei o amor de homem e mulher na adolescência ainda, e como não acredito em possuir pessoas, pude e posso viver este amor com toda a intensidade. O tempo acreditem, nos torna mais amáveis como amantes. Tenho o amor de meus amigos e a minha casa está sempre cheia. Tenho o amor pela cria, minha prole deu cria, e tenho um neto que só por existir me faz exercitar o amor.

Termino esta crônica com as palavras do desbocado poeta, Wally Salomão: "O que amas de verdade permanece, o resto é escória"

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Oficina de Poesia do Grupo Taba de Corumbê no Teatro Municipal de Mauá.



















Convite / convocação.

Domingo agora, dia 17 de maio de 2009, a partir das 15h00, acontecerá a Oficina de Poesia do Grupo Taba de Corumbê no Teatro Municipal de Mauá. Estes encontros tem acontecido regularmente e o próximo será dia 31/05/2009; marquem na agenda.

Encontro em clima descontraído, mas com muita seriedade, com o objetivo de reforçar os laços de amizade dos escritores da cidade e convidados, além de análises e troca de informações sobre nossa língua, poesia e literatura. Tragam seus poemas para leitura, ou se estiverem preparados, analisados pelo grupo.

(Domingo, 17\05\2009, das 15H00 às 17H00)
TEATRO MUNICIPAL DE MAUÁ
Rua Gabriel Marques, s/n.º - Centro – Mauá – SP



Maiores informações:.

camargoeb@ig.com..br

http://tabadecorumbe.blogspot.com

Convite pra próxima sessão do Cineclube Pilar de Mauá









No dia 18 de maio, estaremos exibindo o filme
ALAN MOORE, O CRIADOR DE WATCHMEN (the Mindscape of Alan Moore) Neste documentário, Alan Moore, o escritor de quadrinhos que revolucionou o gênero nos anos 80, ao escrever obras seminais, como Watchmen, Monstro do Pântano, V de Vingança, entre várias outras, fala um pouco sobre suas idéias para hq's, de onde vieram suas criações, e sobre suas crenças sobre as mitologias que regem o mundo, dentro e ora da ficção.


A sessão será as 19 horas, gratuita, no Teatro municipal de Mauá, e estão todos convidados.

http://cineclubepilar.blogpsot.com

E, no dia 23 de maio, o filme "Declaração", com roteiro meu (Alexandre do Cineclube), será exibido no programa ZOOM, da tv Cultura, às 10:30 da noite. Repassem!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Resenha crítica de Carlos Henrique André sobre meu livro "De Lembranças & Fórmulas Mágicas".



De Lembranças & Fórmulas Mágicas.

Carlos Henrique André

Otávio Paz diz que a partir da modernidade o poeta está irrevogavelmente isolado, solitário pelo afastamento de seu povo - que já não lhe reconhece como guardador de suas memórias.

Edson Bueno de Camargo parece ter encontrado, em De Lembranças & Fórmulas Mágicas, um artifício eficiente para reintegração com seu povo, através da redução de seu contingente ao grupo familiar.

Seus poemas, que ao princípio parecem representar unicamente sua memória pessoal demonstram-se, após leitura mais atenta, a memória de sua gente. Unindo assim o "particular ao universal", como ensinam os grandes mestres, sua história reflete a de muitos.

O título do livro tem um duplo sentido. É de lembranças e fórmulas mágicas o que Edson diz assim como a maneira escolhida por ele para dizer. Influenciado provavelmente pela poesia oriental, Edson propõe em seus poemas uma extensão formal do hai-kai. Muitos dos poemas iniciam-se com esse modelo de escrita que durante o restante dos versos parece estar sendo comentado, como em "ouvidos de gato": minha vó /com ouvidos de gato / ouvia toda a casa.

Outra fórmula, ou ingrediente dela, que Edson utiliza é uma unidade temática que funciona como um leitmotiv que atravessa todo o livro tornando-o uma peça coerente e homogênea, sectária de si mesma.

Tudo isso é feito sem ingenuidade. Edson vê a família não como um sistema em perfeito funcionamento, mas como uma organização inevitável de onde, além do bem e do mal, se pode ou se deve extrair tudo o que a vida é.

Diferente de seu livro anterior, O Mapa do Abismo, que reúne poemas da juventude, Edson alcança em De Lembranças... uma admirável consistência em sua linguagem, além de abandonar o simples pessimismo por uma reflexibilidade mais atenta sobre a dinâmica das coisas.


http://mentiria.blogspot.com/2009/05/de-lembrancas-e-formulas-magicas.html

Carlos Henrique André – escritor e ator

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A respeito do lançamento do livro “Outros Silêncios” de José Geraldo Neres.




Este começo de noite foi muito agradável. Compareci ao lançamento do livro de José Geraldo Neres, “Outros silêncios”, na livraria Alpharrábio, em Santo André – SP. Mais que um lançamento, foi a apresentação do livro através da poeta Dalila Teles Veras aos amigos do escritor e de uma certa maneira à comunidade onde ele mora e milita culturalmente, o Grande ABC. Pensando em comunidade como algo um pouco maior que a limitação geográfica, pois havia pessoas de quase todos os municípios das Sete Cidades, e restritivo no sentido que este livro é para pessoas que vêem a poesia como ferramenta de extrair o sensível de nossos cérebros e corpos. É muita coragem se lançar um livro de poemas no mundo utilitarista em que vivemos, a poesia sempre soará como ruído incompreensível aos ouvidos dos que só ouvem com prazer o tilintar das moedas. A poesia não é e nem deve ser salvacionista, mas poderá ser redentora à medida que é ainda a única coisa que resiste a ter um valor monetário.


Hoje vi um poema ser dançado ao som de atabaque, pau de chuva, e todo o som que não ouvimos, mas que está presente, o som do acaso. Além de é claro, o som da voz humana, o primeiro e primordial instrumento musical. A professora e dançarina Kiusam de Oliveira deu corporeidade a um poema, ao mesmo tempo que chama Neres de homem-água, pede proteção a Oxum, a mãe das águas, exorta o feminino que essa água quer dizer. A poesia é o feminino das águas torrenciais que existe na poética de José Geraldo Neres, que poderia ser homem-chuva, homem-rio (e todas as suas margens), homem-barro (e seus tijolos e potes), pois o barro é a mistura da terra fértil com a água imprescindível.

Esta mesma Kiusam, dá um depoimento de uma situação de catarse, a partir do exercício de leitura com seus alunos, fala da palavra empoderamento, cunhada tão sabiamente por Paulo Freire, da possibilidade do poema fazer pessoas em situação de baixa auto-estima, se libertarem das suas amarras corporais e mentais, e se verem como realmente são, seres humanos. Ai se dá a maior glória de um poeta, a de ser alijado da propriedade de seu trabalho, é quando o leitor se espelha em sua obra, leitor que passa a ser também Narciso que se espreita.

A partir de hoje Rádi Oliveira, poeta de Diadema, passou a ter uma voz, quem eu só conhecia pela escrita, criou corporeidade em uma voz suave e acolhedora. Rádi cantou um poema de Castro Alves, “Oh! Bendito o que semeia livros”, que nunca imaginei tão melodioso. Nunca mais lerei este poema sem me vir a afável melodia. Para dar provas de que cada verso da poesia de Neres é já em si um poema, o ator Carlos Lotto fez um exercício, de copiar vários primeiros versos, que lidos juntos formaram um novo e inédito poema.

Voltei para casa com uma boa sensação. A incomum sensação de que é válido este exercício permanente de se limar contra o verso. De que somos diamante a ser lapidado. Pérola que se cria na ostra incomodada pela palavra.