segunda-feira, 15 de junho de 2009

Maré baixa













Já se vai um mês desde a última crônica postada no blogue, tive uma série de idéias, mas nenhuma de fato se materializou. Isto está como a minha vida, tenho uma série de idéias mas nada levado à termo. (Minha companheira já anda me ironizando, pois a tudo que ouço, afirmo, isto dá uma crônica.) Ruim, não necessariamente, tenho mais medo dos que tocam a vida pela urgência, do que pelos que deixam a água do rio correr. Lembro do barqueiro amigo de “Sidarta” ( de Hermann Hess), ouvindo o rio lhe dizer as coisas, e sendo filosoficamente indiferente a tudo. Apressamo-nos em viver com velocidade de modo que a morte chegue logo. No fundo a sociedade de consumo é um culto à morte. Quero mudar isso, ou não me importo mais com isso, algo assim.

Temos nos reunido com uma certa regularidade, nós entenda-se pelo grupo literário Taba de Corumbê (http://tabadecorumbe.blogspot.com), o que tem sido um bom exercício para a mente, bons motivos para escrever mais, mas no entanto ainda não foi o suficiente. Tenho mantido uma distância segura das ações do grupo. Sou um bom ouvinte. Reunimo-nos aos Domingos á tarde em uma sala do Teatro Municipal de Mauá, para discutir poesia, o que já esbarra no surreal o suficiente. (Enquanto o mundo assiste o Faustão, nós ouvimos Augusto do Anjos. )

Ainda reverbera minha última crônica, que gerou até um novo blogue entre amigos (http://sapateirosdepalavras.blogspot.com/). Fico imaginando as palavras escritas, mas não sento diante do computador e escrevo. Quantas palavras e frases concebemos na vida e não a pomos a termo. É assim com poemas também, maré baixa, como se a Lua não pudesse arrancar do subconsciente todos os poemas que estão lá escritos e catalogados. Só esperando vir à luz do papel, e depois, é torcer para um dia ter um leitor que o reviva. As vezes, e não poucas vezes, fico meditando do porque desta faina inútil que é escrever poesia. Por outro lado, se não escrever o que acontece? Muda também alguma coisa o silêncio? Ou assim como a voz aberta falando à poucos não muda o mundo, menos ainda o fará o silêncio. Ao menos serve o poema ao desabafo, e se nem isto, à industria de papel e tinta, tem que sobreviver os operários das gráficas, imprimam em papel e tinta, acumulem os livros nas prateleiras, quem sabe alguém um dia os lerá.


Tenho me tornado cada vez mais um ermitão, não destes que vivem no deserto, mas dos que tem o deserto dentro de si. A minha solidão em alguns momentos é tão sólida que posso tocá-la. Tem um quê de aceno de quem se despede no balaústre do navio, quando está já ao mar. No entanto toda essa fala é uma vergonha, uma vez que estou cercado por quem amo, e que me ama. (Meu neto sozinho é capaz de ocupar bastante espaço, físico e ou emocional.) Mas o vazio insiste em me acompanhar aonde vou. Sinto-me muitas vezes um exilado, como se não fizesse parte deste país. Luto para não me ancorar dento de casa e pregar as janelas como um conhecido meu fez. Além do que sofro de claustrofobia, tenho que tomar ar de tempos em tempos, senão a casa me esmaga.

E tudo o que escrevi me lembra Alice Ruiz, “Socorro, eu já não sinto nada...”

Um comentário:

Leticia Brito disse...

Nossa obra sempre está ligada a nossa vida, ainda mais para os que teimam em escrever poesia indo no fundo do seu ser e despertando tudo o que de mais belo há por lá.

Quanto a não sentir, creio que é mais acumulo de sentimentos do que falta deles.

Aquieta o espirito e continuei, pois esse teu oficio é também teu vicio e prazer.