Clarice Lispector
Recebi um clipe por e-mail da música “Imagine”, de John Lennon, da recém amiga Amanda, que me fez rolar quentes lágrimas pelo rosto. Por muitos anos fui uma pedra, nada me atingia, ultimamente virei um “manteiga derretida”, choro com uma facilidade medonha. Mas o filme é realmente muito comovente. No clipe a música é executada por um coral de surdos, usando linguagem de sinais, e um rapaz falante, declama a letra com muita dificuldade, aos poucos vão se juntando a garota negra gorda, o rapaz cadeirante, e depois foi sendo engrossado pelas pessoas comuns, por assim dizer.
Esta música do John Lennon, já é um murro no estômago, pois fala com singeleza da utopia do possível, mas que não realizamos, necessitamos, a humanidade como um todo, evoluir para um patamar superior, para que coisas exeqüíveis, passem a ser lugar comum, e que o senso comum seja abandonado em prol da inteligência e solidariedade. (Quem sabe que com o cair da máscara do capitalismo em Copenhagen, daremos um pequeno passo na direção certa?)
Uma vez passei por uma avaliação psicológica, em que a psicóloga, falou que pessoas muito inteligentes, fantasiam sempre um mundo perfeito, que só o seria se todas assim o fossem. De lá para cá, muitas teorias caíram por terra, Gardner jogou todos os superdotados em uma fossa de desprezo e ostracismo, falar que se tem um QI altíssimo virou quase um motivo de vergonha. Muitas vezes desejei emburrecer, imaginando que com isso fosse mais feliz e integrado socialmente. Com o tempo e a maturidade aprendi duas coisas, uma que o mundo perfeito se faz de coisas muito simples, que a beligerância das pessoas, se dá muito mais por teimosia que por convicção, que todas as verdade são maleáveis, e tirando a ética e o amor (filia mais que Eros), tudo o mais pode ser discutível sob um ponto de vista, que pode ser móvel, à medida que adquirimos conhecimento. E a segunda coisa mais importante, é que muitos de nós somos diferentes não pela inteligência, que é só um fato da vida, o que nos prega na parede é a sensibilidade, e isto é um dom humano, todos a tem, tudo é uma questão de estímulo, pessoas ditas insensíveis, são couraçados que se sentem ameaçados pelo sentir. Sensibilidade é um dom nato, não se aprende, mas sempre podemos relembrar como funciona, a arte se faz disto, sensibilidade mais trabalho, muito trabalho.
Por uma razão misteriosa, ter a sensibilidade exposta, sempre acaba levando à poesia, pessoas que vêem o mundo pelo filtro do poético. As crianças vivem mergulhadas na poesia, e chegamos nós com nossas razões imperscrutáveis de adultos, e jogamos um balde de água fria. Talvez a poeta Alice Ruiz tenha razão, poetas nunca atingem a maturidade.
A exatamente um ano comecei este blogue sem saber que rumo iria tomar, com o passar dos anos tenho cada vez menos certezas, tudo se torna relativo diante de meus olhos. Só sei que a poesia entrou definitivamente em minha existência e que vou morrer um dia. Isto é tudo o que tenho de fato. De resto tudo é uma grande benção, desde o sorriso de meu neto e até o fato de nós respirarmos o mesmo ar.
3 comentários:
Nossa, te fiz chorar, não era bem essa a intenção. É um vídeo que eu achei tão bonito que resolvi passar adiante. É um vídeo que faz pensar em muitas coisas. Espero que tenha gostado e não ficado triste com isso.
Grande abraço.
Amanda
Ficar triste é muito útil para quem escreve. Escrevi a crônica.
Descobri depois que o clipe é de um episódio da série de televisão GLEE. Que tirando os exageros no estereótipos, tem umas passagens muito interessantes sobre convívio humano e preconceito.
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