Claudio Willer, importante poeta e ensaísta brasileiro, lança nesta semana o livro Um Obscuro Encanto: Gnose e Poesia Moderna. A convite da coluna, o também poeta Edson Bueno de Camargo, de Mauá, travou diálogo a respeito da nova obra.
O livro é a tese de doutorado em Letras que Willer apresentou à USP em 2008. É uma versão editada. Examina as doutrinas gnósticas e trata de suas conexões com vários autores. Trechos da conversa:
Camargo: Vivemos hoje um momento em que a sociedade pode chamar de racional, onde aparecem poetas cerebrais, preocupados mais com a forma do que com a carga de significados. Acredita que ainda exista espaço para o misticismo na poesia, ou os poetas xamãs se extinguiram com a recente morte de Roberto Piva?
Willer: De fato, a cena poética é dominada pelo que chamo, ironicamente, de ‘poetas inteligentes'; aqueles que enxergam criação poética como algo da competência exclusiva do ‘cógito' cartesiano. Mas, nos últimos anos, tem aparecido novos poetas, de qualidade, que se expressam preferencialmente no modo não-discursivo. Não por acaso, leitores de Roberto Piva. Serão um capítulo de uma história futura da poesia brasileira.
Camargo: Existem poetas como José Geraldo Neres, de Santo André, com uma poesia complexa, com muitos atributos da natureza. Poderíamos dizer que ele está próximo a uma poesia com características de um misticismo moderno, em um movimento sincrético?
Willer: Neres é exemplar. É paradigmático, pelo modo como representa essa renovação poética. Sincretismo, sim: filosófico e literário. Não é o único. Outros representam essa tendência, você inclusive.
Camargo: O que há no livro da pessoa Claudio Willer? Existem motivos místicos para a escolha do assunto?
Willer: Motivos místicos? Não no sentido de uma adesão a uma doutrina. Sim, se entendidos como equivalentes à valorização da intuição, do conhecimento revelado através da experiência poética. Meus principais motivos foram a curiosidade, querer saber mais, a inquietação. Minha principal contribuição, penso, foi mostrar como esses vínculos com o gnosticismo são diferentes em cada poeta. Poetas não são ideólogos, não são doutrinadores, insisto. Nesse sentido que meu livro pode contribuir, espero, para a leitura da poesia.
LANÇAMENTOS
Willer lança Um Obscuro Encanto (Civilização Brasileira) na quarta-feira, às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2.073, São Paulo).
Já Bueno de Camargo tem dois compromissos. Faz pré-lançamento de seu livro Cabalísticos (Orpheu), no dia 16, às 14h, na Bienal do Livro de São Paulo. No mesmo evento, mas no dia 22, às 19h, o poeta de Mauá participa da noite de autógrafos coletiva de Antologia do I Concurso de Poesia Amigos do Livro - Flipoços de 2010. A Bienal será no Pavilhão de Exposições do Anhembi.SC900,115
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