segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

“tirinha” – DGABC 26/12/2009




É impressionante como uma inocente “tirinha” do Chico Bento publicada no jornal Diário do Grande ABC, caderno Cultura e Lazer, pode conter um ingrediente da exclusão social em nosso país. Trata-se do preconceito lingüístico, termo cunhado pelo professor Marcos Bagno, mas que se encaixa perfeitamente neste caso.  Na “tirinha”,  o Chico Bento mostra entusiasmo com seu novo animal de estimação,  um papagaio, ao amigo Zé da Roça, declarando as qualidades do bichinho de ser um bom falador, e de falar tudo “certinho”, ao que o Zé retruca em seco, que o Chico então poderia aprender a falar com o papagaio.

Parece uma piada besta, mas não é, estou cansado de ver pessoas com idade e experiência,  serem corrigidas em seu falar gostoso e brejeiro, por discípulos do Pasquale Cipro Neto, sendo desrespeitados como seres humanos integrais que são. Cada pessoa carrega sua bagagem de conhecimento, e nem sempre isto é acadêmico. É mais do que provado, por lingüistas sérios e teóricos da educação, que os “erros” de português na verdade são dialetos pessoais, todos plenamente explicáveis,  e ao menos que estejamos escrevendo um documento oficial, cada pessoa tem o direito de falar da forma que lhe for mais conveniente e confortável, em especial em seu ambiente de origem. A repetição do preconceito é anti-producente para todos.

Por fim, tenho que ressaltar o anacronismo destas “tirinhas”, muito antigas, que mostram a professora tirana e estereotipada, que não foi alcançada por conceitos básicos de pedagogia, piadas que carregam conteúdo preconceituoso  e excludente social. Com tantos bons cartunistas que existem na região, o Diário do Grande ABC poderia renovar esta parte do jornal, que tenho certeza que é muito lida por todos os leitores e de todas as idades.

Um comentário:

José Carlos Brandão disse...

Deixe a gramática para os dromedários que puxam a carroça do tempo para trás.
Depois que Rimbaud esturou a linguagem, não sobrou lugar para os mestres-escola com suas palmatórias ensebadas.

Grande abraço, Edson, e siga em frente (que atrás não vem gente, vem jumento).