Coleção Orpheu, o que é?
A coleção Orpheu da editora Multifoco é um selo voltado para a poesia brasileira nos últimos anos. Adotando como marca a lira “orphica”, o selo pretende redescobrir a poesia brasileira. Através da coletânea que leva o selo Orpheu, tentaremos traçar uma linha desta poesia. Assim, mais do que selo editorial, trata-se do resultado de uma cuidadosa pesquisa. Buscaremos o poeta e sua poesia. Do mesmo modo que Orpheu buscou Eurídice, nós procuraremos os poetas, inéditos ou não, que por sua atividade merecem vir à luz, através do objeto livro. Desejamos construir um “templo de audição”. Formar, pelo conjunto de vozes apresentadas na coletânea, uma harmonia.
Atenciosamente,
Anderson Fonseca
Editor
Orpheu
Pintura à óleo de Carlo Maria Mariani (180.50cm x 135 cm), Itália, 1979
Uma árvore surgiu. Ascensão pura! Orfeu canta! A árvore é toda ouvidos. Tudo cala. Mas, da calma obscura, nasce um começo; muda o sentido.
Os animais saíram do transparente bosque, deixaram ninho e covil; Então, o que se viu, foi que nem por ardil nem por medo ficavam silentes:
tudo era ouvir. Uivar, gritar, bramir: não. Só a melodia. Onde antes mal havia choça a receber o canto,
agora há um abrigo de forte quebranto, com portais de colunas vibrantes; ali criaste-lhes um templo da audição. – Rilke, do livro Os sonetos a Orfeu.
Edson Bueno de Camargo
Edson Bueno de Camargo, é outro poeta a estreiar o selo Orpheu.
Edson Bueno, nasceu em Santo André (SP), em 1962. Publicou em diversas revistas, dentre as quais se destaca Confraria 2 anos (2007), O Casulo (2008) e da Revista Literaria Remolinos (Uruguai, 2008) . É autor dos livros De Lembranças & Fórmulas Mágicas (2007); O Mapa do Abismo e Outros Poemas (2006), e Poemas do Século Passado-1982-2000 (2002).
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Pelo selo Orpheu, Edson Bueno de Camargo está lançando o livro Cabalisticos (lançamento em Junho).
Abaixo um dos poemas do livro Cabalisticos:
o som que há em tudo
hoje amanheci com um peixe dentro do ouvido
e este me contava todas as histórias desde o princípio do mundo
de quando as novas coisas ainda eram velhas
vestidas do útero da terra
corri com o chacal e senti o cheiro do medo e o gosto da morte
e me pintei com o sangue do animal que abati
e chorei seu espírito e seu sacrifício
dancei sobre o fogo dos vulcões imemoriais
e respirei de novo pelas guelras o sal do primeiro mar
dormi sob o manto da primeira longa noite
na vigília do primeiro coiote sobre a terra
e a velha anciã me levou para o topo de todos os lugares
e me apontou as estrelas que caíam do céu
e de como somos filhos delas
seus dedos magros e secos se encheram com meus cabelos
e sonhei o sonho de todas as coisas
e que eu estava em todo o lugar
chorei todas as tristezas do mundo
e minhas lágrimas correram como torrentes montanha abaixo
e meus pés criaram raízes
e me tornei uma grande árvore
e fui abatido por um grande raio
e sua voz era como o som que há em tudo
e queimei até só sobrarem cinzas
para que tudo principiasse novamente
e vi minha semente nos olhos de meu neto
5 comentários:
meu amigo e poeta. como fico feliz que com esta notícia. vamos seguindo na "na vigília do primeiro coiote". abraxas.
linke do skype para poder conversar com outros usuários:
http://www.skype.com
abraxas
Extraordinario texto amigo poeta Edson Bueno de Camargo, que tive o prazer de conhecer num sarau em Maua. Grande abraço
Parabéns Edson, e o poema é realmente pra viajar...
ótimo!
essa editora está difundindo a boa poesia contemporânea
abrs,
Claudio Willer
cjwiller@uol.com.br
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