quinta-feira, 13 de maio de 2010

O que comemorar no dia 13 de maio?



"Lei 3.353 de 13 de Maio de 1888 Declara Extinta A Escravidão no Brasil".
A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o senhor D. Pedro II faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e Ela sancionou a Lei seguinte:
Art 1º - É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.
Art 2º - Revogam-se as disposições em contrário. 

O que comemorar no dia 13 de maio?


Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel extingue a escravidão no Brasil, último país independente do ocidente a erradicar a escravatura. (Não esqueçamos que nosso verdadeiro dia de luta é 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, dia de Zumbi dos Palmares.)


O que me incomoda mesmo é saber que passados 122 anos da assinatura da Lei Áurea, a escravidão ainda permanece no nosso inconsciente. A escravidão entrou na alma do brasileiro, e creio que nunca seremos de fato uma nação feliz e progressista, enquanto isto persistir. Nossas relações sociais estão eivadas disto. Fomos amaldiçoados pela diáspora e pelo genocídio africano, pois provavelmente trinta milhões foram mortos para chegarem onze milhões vivos nas Américas, em estimativas baseadas nos livros das famosas companhias, bisavós das multinacionais e conglomerados econômicos que na atualidade nos oprimem. Enquanto não se fizer justiça a esta aberração que políticos de direita e a mídia a serviço do capital tentam amenizar, que foi a escravidão africana no Brasil, nada se engrenará de fato neste chão, é preciso honrar os mortos, é preciso lavar as lágrimas, carece de parar olhar para o chão e se encarar de frente, sem o risco de morte pela polícia.

Não é raro abrirmos um jornal qualquer ou em uma entrevista na televisão, um empresário reclamar do custo da mão de obra, como se não fosse uma prerrogativa básica de um trabalhador receber um salário. O famoso Custo Brasil, nada mais é do que salário. A choradeira do empresário muitas vezes esconde um saudosismo escravista, e muito coincidentemente, a maioria de seus operários são negros ou mestiços, de negros e índios, ou pessoas socialmente desfavorecidas, pois em nosso país, é fácil ver a relação que existe entre pobreza e inferioridade étnica (todos pensamos assim em algum momento, e é hipócrita negar).

Não podemos esquecer que foi em nosso país que o engôdo da superioridade racial branca foi política de Estado, mesmo que bem disfarçada até 1945, que se tentou amenizar com a verdadeira constituição democrática e soberana que foi jogada no esgoto em 1964. O branqueamento da população promovido pelo império, as perseguições aos professores negros no Estado Novo, fora milhares de acontecimentos que ficaram fora dos livros de história, e precisaríamos de um livro agora para relatar. Não é a toa, que o geógrafo Milton Santos um homem celebrado no mundo, é um ilustre desconhecido em sua terra, por sua cor e suas idéias. Não é a toa que a mídia burguesa tenta desmerecer Paulo Freire e Leonardo Boff, pois as palavras destes dois velhinhos, um ainda vivo lembrem, e outro sempre vivo em nossos corações, afirmam que o responsável pela pobreza é o status quo imposto desde a colônia. A culpa da miséria é dos antigos senhores e não dos antigos escravos. Hoje a servidão no chão da fábrica é tão aviltante quanto antes, a violência e o assédio moral são os novos chicotes e pelourinhos, somos livres dentro da República, mas a falta de acesso a educação e a justiça, ainda feita e estruturada para os doutorzinhos e sinhôs, cria cidadãos de segunda e terceira classes.

E para dizer que não falei em poesia, vamos lembrar de Solano Trindade, poeta genial que além de estar na zona branca do ostracismo de quem detém as mídias de massa, não entra nas universidades nem pela porta dos fundos.

Poesia no dia de hoje, só se for Zumbi de punho cerrado, há 122 anos não nos deram nada, que de um jeito ou de outro não teríamos tomado à força.

2 comentários:

Nanamelon disse...

Não que isso melhore muito as coisas, mas vi Solano Trindade na faculdade de Letras da USP e foi um dos semestres mais incríveis que tive lá. Prometi pra mim mesma trabalhar com os textos dele quando for minha vez de dar aulas, e hei de viver pra cumprir.

Parabéns pelo seu texto!

Sarah Helena disse...

Arregaçou! Texto perfeito. Hoje estavamos falando sobre as pessoas barradas nas portas de bancos, por sua cor, sua roupa, quando os verdadeiros bandidos cada vez mais são os branquinhos limpinhos que passam desapercebidos com armas na valise imortada ou na bolsa vuitton.

"Poesia no dia de hoje, só se for Zumbi de punho cerrado, há 122 anos não nos deram nada, que de um jeito ou de outro não teríamos tomado à força. "
Assino embaixo disso.