quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cenas Literárias. Relatório e impressões.


Cenas Literárias.

Relatório e impressões. (Edson Bueno de Camargo)

Dentro da programação do III Encontro de Teatro de Mauá, ocorreu o evento Cenas Literárias, dividido em três atividades.  Todas ocorreram no denominado Palco Cidade, no espaço cultural Museu Barão de Mauá.


- Palestra com o dramaturgo, ator e poeta Mario Bortolotto no dia 21 de setembro às 19 horas;


 

- Palestra com os escritores  Dalila Teles Veras, Jurema Barreto de Souza e Edson Bueno de Camargo, discutindo formas alternativas de produção e divulgação da obra literária,  às 19 horas no dia 22 de setembro;


 

 - Palestra e Oficina de Manufatura de Livros, com work-shop de costura japonesa, com os escritores  Cláudia Brino e Vieira Vivo no dia 24 de setembro, sábado às 14 horas.




Podemos dizer que a ideia de misturar outras linguagens dentro de um encontro de teatro, foi muito pertinente, uma vez que sabemos que o teatro engloba ou absorve outras linguagens em seu fazer artístico. A literatura e a poesia, compõem uma parte importante da encenação, uma vez que uma quase totalidade das peças não consegue prescindir do texto. O texto é um princípio gerador do ato de encenar, sendo o dramaturgo, um ser que está no limiar entre a literatura e o teatro, sendo por muitos a dramaturgia considerada um dos aspectos da literatura.

No dia 21, o escritor Mario Bortolotto, em um clima bastante descontraído, discorreu sobre sua carreira de ator e produtor de teatro e de como o ato de escrever permeou, e em certos aspectos apontou os caminhos que o levaram ao teatro. O próprio autor, destaca que se considera mais um escritor, e que a figura do dramaturgo colou em sua pessoa, mais por uma imposição de mídia, do que de desejo pessoal seu.  Apesar de um público pequeno a princípio e um tanto móvel, houve grande participação dos presentes, dando ao encontro um clima de bate papo informal, que acabou se estendendo mesmo depois do encerramento oficial. Foi muito interessante o contato com um agente social da arte, bastante multimídia, e interessado no fazer poético. A pessoa prevaleceu sobre a figura emblemática e às vezes polêmica.

No dia 22 houve um verdadeiro debate em torno da condição do autor local, dos oriundos do grande ABC e suas cidades,  e de uma aparente ou existente mesmo, falta de respeito que estes sofrem. O poeta Edson Bueno de Camargo, discorreu sobre ações históricas de grupos de escritores da cidade de Mauá e sobre a dificuldade da ação dentro destes grupos, bem como a respeito dos problemas do fazer local. Discorreu também ao que ele denominou resistência cultural, sua magnitude e definição geral.

A poeta e editora Dalila Teles Veras,  falou de sua experiência com o grupo Livre Espaço, e da fundação e manutenção do Espaço Cultural Alpharrábio e seu selo editorial, os praticamente vinte anos de existência do espaço e de sua vivência como editora, não para competir com as grande editoras, mas ao de fazer um trabalho diferenciado, com pequenas edições que se compõem em verdadeiros livros de arte. Dalila também discorreu de forma brilhante sobre o desrespeito que o autores da região sofrem em relação à mídia e autoridades, uma vez que não se dá o devido valor à rica produção local e seus autores. Do voluntarismo forçado, uma vez que raramente se remunera os trabalhadores de cultura local.

A poeta Jurema Barreto de Souza, falou de sua ação como produtora da Revista A Cigarra, desde as primeiras edições mimeografadas, até as revistas finais, verdadeiros objetos de arte gráfica. A Revista A Cigarra, teve o seu encerramento na edição de número 42, nos seus exatos 25 anos de edição.  Falou também de seu trabalho junto com o poeta Zhô Bertholini e seu retorno ao formato original, criando um zine, e edições de seus próprios livros.

Houve uma troca preciosa de informações entre os debatedores e o público presente. Terminou o evento com a forte impressão que muito ainda havia por ser dito,  apontando–se a necessidade de outros encontros.

Dai 24 os escritores e editores alternativos, Cláudia Brino e Vieira Vivo, ofereceram um atividade bastante lúdica e ilustrativa  de como surgiu o livro, os cuidados com sua conservação e de como surgiu a encadernação dos volumes e das muitas denominações que possuem um livro. De forma prática e muito didática, Cláudia Brino desenvolveu sua oficina, envolvendo todos os presentes. O escritor Vieira Vivo, complementou a palestra, falando da atividade dos dois, da confecção caseira, se assim pode se dizer, de seus livros, que em muito não deixam a desejar nada para produção industrial, material muito bem feito e executado, com a diferença de serem feitos um a um com a dedicação de objeto artesanal.

Além do desenvolvimento de uma palestra muito rica e esclarecedora, houve uma parte prática, onde os presentes tiveram a oportunidade de costurarem um pequeno volume, pelo método conhecido como “costura japonesa”, saindo todos os que se dispuseram a fazê-lo, com um pequeno caderno costurado pelas próprias mãos.

Apontamentos gerais:

- todas as palestras foram muito bem aproveitadas pelos presentes, havendo em todas uma forte participação do público presente;

- notou-se uma presença de um público heterogêneo, e uma baixa presença de pessoas interessadas em literatura;

- houve alguns problemas com a mobilidade do público, havendo em certos momentos uma flutuação da audiência, com entrada e saída de pessoas durante os debates, como era uma atividade paralela ao encontro geral, talvez tenha ocorrido um certa “competição” entre os eventos;

- a quase ausência de problemas de organização e estrutura, locais e acomodações adequados, ocorreram atrasos discretos em todas as atividades;

- em todas as atividades ficou a sensação de que poderiam dar continuidade às mesmas  e a ocorrência de novos encontros.  

Um comentário:

Corvo disse...

Grande Edson! Sempre prestando serviços desinteressados à cultura local