terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Quando a Lua estiver na sétima casa

Este texto está sendo escrito com um grande atraso, meu objetivo era escrevê-lo dia 14 de fevereiro de 2009, no entanto foi tomado pela indolência do autor e sua urgência em brincar com o neto. Ai somaram-se, um churrasco para homenagear meu amigo Eduardo Erikson, o Dú, e algo em torno de algumas cervejas e meia garrafa de tequila. Depois, como sou “San Lunes”, não produzo nada de útil às segundas–feiras, portanto só agora me coloquei a escrever.

O porque do dia 14 de fevereiro do ano de 2009: é que nesta data do calendário gregoriano, ocorre um alinhamento astrológico descrito pela música “Aquarius”, da peça e do subseqüente filme “Hair”. When the Moon is in the seventh house/and Jupiter aligns with Mars.Then peace will guide the planets/and love will steer the stars”. Na tradução da artista plástica Sarah Helena, "Quando a Lua estiver na sétima casa/ e Júpiter se alinhar com Marte/ Então a paz guiará os planetas/ e o amor dirigirá as estrelas". Aliás, foi um telefonema da Sarah Helena, que por obra do “grande acaso”, o mais belo dos deuses, também é minha filha, que me alertou para o alinhamento. Acho que quando ela era pequenina, a fiz ouvir demais uma versão desta música. Seu cérebro foi contaminado por toda esta esperança anárquica e socialista romântica.


De qualquer maneira quase a efeméride em questão foi esquecida até por mim. Esta data já foi muito importante no passado, pois era esperada como a grande conjuração de energias da “New Age” ou “Novo Aeon” como Raul Seixas popularizou no Brasil. Mais tarde a expressão “New Age” foi banalizada com uma forma de música “técno” e eletrônica, e por grupos que descobriram no desespero humano uma forma de fazer fortuna. À maneira dos tele-evangelistas, os profetas da NOVA ERA, prometem soluções milagrosas aos problemas e principalmente prosperidade financeira aos neófitos. Sempre ao preço de um dízimo polpudo, podem desvendar o “segredo”.

A “Era de Aquário” começou e não vejo a menor possibilidade de que nossos sonhos juvenis se realizem. A paz entre os homens, o amor ilimitado, o fim da propriedade privada e a valorização da posse coletiva do mundo. O que podemos constatar é que continuamos lutando, mas a vitória não se vislumbra. Os anos de 1967 e 1968 do século XX, foram um farol que iluminou o mundo. Mas se apagou na mesma intensidade que se ascendeu. (Existe uma certa revista que não vou citar o nome que até minimizou os fatos históricos ocorridos.)


Hoje mais que em qualquer outra época, o único deus viável é a posse de bens materiais, e em forma de pecúnia, que é a das mais ilusórias formas de posse. Basta um governo quebrar, e isto pode acontecer a qualquer momento, (vide a crise que passamos) e um monte de dinheiro vira um monte de papel sem valor. Assim como ações, debêntures, ou qualquer nome que esta coisa satânica venha a ter. Os visionários dos anos 1960 venderam seu lugar na primeira fila para ver o fim do mundo. Os mais espertos devem ter feito como a “Al Quaeda” e compraram diamantes sangrentos de Serra Leoa. É possível que com o fim da civilização e da espécie humana, não tenham para quem vender, mas diamantes são para sempre.


Nos dias que se passam, só os pragmáticos é que podem e conseguem prosperar. Os românticos e criadores de utopias estão passando. As jovenzinhas estão “cagando e andando” para as convicções de suas avós que queimaram sutiãs em praça pública, e vendem sua beleza a troco de uma mínima exposição à mídia. A dignidade da mulher passou a contrariar o filósofo Kant, passou a ter preço, e nem é tão caro assim. A mulher folhetim cantada pelas “maluquetes” doces bárbaras da Betânia e Gal, ficou muito cara. Ela queria amor e carinho além de uns panos coloridos. As moças da atualidade aprenderam a obter seus orgasmos sozinhas, e usarem seus corpos na mais perversas das prostituições. O corpo não tem a menor importância como fonte de prazer, o órgão sexual do homem moderno são os olhos. A mulher bonita é aquela mais fácil de ser retocada nos programas de informática para desenho e seus nomes complicados, e que se repeti-los aqui estarei fazendo propaganda. Tudo passa a ter valor monetário, os valores humanos não tem a menor importância. Existe toda uma grita na mídia. Os jornais pedem soluções das autoridades. Mas no fundo no fundo, todo mundo quer sua parte em dinheiro, e de preferência em ouro, que é convertível em qualquer parte do mundo, além do fascínio que exerce desde o princípio dos tempos. Ou pelo menos desde o tempo do reino da Lídia. Acredito que no princípio dos tempos mesmo, o que fascinava as pessoas era um boi inteiro no espeto, um teto sobre suas cabeças e as tribos inimigas com tanta fartura quanto nós, assim não haveria guerra.


No meio de tudo isto, vive em ambigüidade, aquele que aqui escreve. Embora tocado com vara de gado como todos os mortais. (Preciso de emprego, carteira assinada, pagar as contas do cartão de crédito, por gasolina no carro, consertar o pobre coitado, que já anda queimando óleo 40.) Meu caminhar é trôpego. Mas tenho uma tendência estranha de querer tomar o caminho da esquerda, quando desde 1989 todos rumam para a direita. Tomar banho na outra margem do rio. Ficar quando todos partem. Ir quando se fixam. Tenho o hábito de chorar sozinho lendo Mario Quintana. E de chorar abertamente quando sofre uma criança. Embora não tenha esperança nenhuma que as coisas possam se ajeitar, de me sentir vencido pela ignorância humana, não consigo deixar de acreditar em minhas utopias.


Como já confessei um dia ao poeta Zhô Bertolini, falo de desesperança, mas me traio o tempo todo escrevendo poesia.

Um comentário:

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

No meio de tudo isto, vive em ambigüidade, aquele que aqui escreve. Embora tocado com vara de gado como todos os mortais. (Preciso de emprego, carteira assinada, pagar as contas do cartão de crédito, por gasolina no carro, consertar o pobre coitado, que já anda queimando óleo 40.) Meu caminhar é trôpego. Mas tenho uma tendência estranha de querer tomar o caminho da esquerda, quando desde 1989 todos rumam para a direita. Tomar banho na outra margem do rio. Ficar quando todos partem. Ir quando se fixam. Tenho o hábito de chorar sozinho lendo Mario Quintana. E de chorar abertamente quando sofre uma criança. Embora não tenha esperança nenhuma que as coisas possam se ajeitar, de me sentir vencido pela ignorância humana, não consigo deixar de acreditar em minhas utopias.

Como já confessei um dia ao poeta Zhô Bertolini, falo de desesperança, mas me traio o tempo todo escrevendo poesia.

Edson Bueno de Camargo,
VOCÊ É UM MUNDO DENTRO DO MUNDO, AQUI ENCONTREI A BOA CULTURA, ONDE VOLTAREI MUITAS VEZES, MEUS CUMPRIMENTOS, DEIXO O LINK DO MEU ESPAÇO DE POESIA, COM ADMIRAÇÃO,
EFIGÊNIA COUTINHO
http://efigeniacoutinhopoesias.blogspot.com/