quinta-feira, 12 de março de 2009

Santo de casa não faz milagre.

Na página 03 (três) do Caderno Cultura e Lazer do Diário do Grande ABC do dia 11 de março de 2009 há uma manchete que me deixa deveras incomodado, “ Cultura além do coreto nas sete cidades”. Estaria o jornalista elogiando de forma contundente o espetáculo de Thiago Lacerda, ai seria um jogo de retórica, ou pior que isso, o jornalista desvaloriza a produção local em detrimento da que vem de fora das sete cidades.

Há muito tempo sinto neste caderno de nosso jornal regional, uma crítica muito forte em relação a nossa produção, digo nossa, pois produzo cultura também. Nada é suficientemente bom para merecer ao menos uma nota de rodapé. Artistas da região angariam prêmios pelo Brasil afora, pessoas sediadas na região são suficientemente boas para estar em produções de renome em teatros de São Paulo e até na Rede Globo, mas por aqui, não são nada. Recentemente vários artistas do Grande ABC foram expoentes no Mapa Cultural Paulista, e sequer foram citados por este jornal.

Talvez nosso jornal, tão querido e necessário, devesse também olhar para dentro do coreto, quem sabe tivesse grandes surpresas. Uma região que já produziu um presidente da república, pode muito bem produzir artistas de renome, ou não. Devemos em tempos de selvagem globalização valorizar talentos que podem com reconhecimento desabrochar. A resistência cultural se faz de guerrilhas poéticas. Em tempos de massificação cultural, descobrir que temos também um patrimônio cultural imaterial, talvez seja o caminho para a tal propalada identidade que falta ao Grande ABC.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caros,

Sobre desagravo enviado por Edson Bueno de Camargo ao estudos surrealistas grupos, intitulado "Santo de Casa não faz milagres" contra a afirmação "'cultura além dos coretos das sete cidades", caderno de Cultura e Lazer do Diário do Grande ABC, de 11 de março de 2009

De fato, há anos nos devemos um elo literário regional efetivo, além de consórcios politiqueiros e oportunistas, além de nichos personalistas e narcísicos. Há tempos, também, estudiosos afirmam que o território, dialeticamente, se expressa fortemente em tempos de globalização.

Só uma imprensa estúpida não abre os olhos e ouvidos para isto. Mas nos parece óbvio que a reprodução obsessiva do desgastado ícone em pauta e da última tragédia do dia não sustentarão esse lixo todo em circulação.O que farão, então?

Ainda, em pleno século XXI, somos obrigados a consagrar nossa vasta e distinta produção literária 'independente' em mídias e revistas e encontros e publicações e em tudo o que se abre - ou quase tudo. Quando se consegue uma circulação da produção via publicações impressas, por exemplo, que não se substituem jamais pelo foro virtual, muito bem invadido pela literatura, por sinal, sabemos que é uma outra experiência e de direito. Mas tudo o que sinaliza esse espaço e essa arte tem uma cara independente.
Antes daquela cara do independente de efeito tão pouco transgressor hoje em dia- o que foi dos anos 70 pertence aos 70- , são as caras de uma independência de tal forma competente, que nos (in) define uma zona autônoma temporária cujo sustento se faz de uma ética e uma estética absolutamente posicionadas nas dobras e nos vácuos da diluição de tudo.
Pero que las hay, las hay: revistas, editoras - há uma delas hoje chamada afetivamente em nossos pequenos nichos de 'editora dos poetas', coisa rara, de indiscutível qualidade, profissionalismo e de tão distinta dedicação por parte de seu corpo que acaba promovendo o melhor da poesia brasileira contemporânea com regularidade, atenção, primor e consciência, o que a eleva a um patamar de distinção ainda não proclamada aos nossos quatro cantos.

Elevemos nossos olhares para este rol de ações e posições. Temos de mantê-los e ampliá-los. Mas nunca negociá-los.

Nem desconfio quem assina e/ou quem mantém jornais e periódicos que reproduzem e reproduzem o que já está reproduzido. Nem me interessa.

Hoje, enfim, posso me dedicar a me interessar - nem sempre- pelo que me surpreende, emociona e move para um outro estado de coisas. Não é muito, mas isto talvez me convença a crer que ainda vale a pena.

Abraços. (Re) unamo-nos.
Beth Brait Alvim