Este começo de noite foi muito agradável. Compareci ao lançamento do livro de José Geraldo Neres, “Outros silêncios”, na livraria Alpharrábio, em Santo André – SP. Mais que um lançamento, foi a apresentação do livro através da poeta Dalila Teles Veras aos amigos do escritor e de uma certa maneira à comunidade onde ele mora e milita culturalmente, o Grande ABC. Pensando em comunidade como algo um pouco maior que a limitação geográfica, pois havia pessoas de quase todos os municípios das Sete Cidades, e restritivo no sentido que este livro é para pessoas que vêem a poesia como ferramenta de extrair o sensível de nossos cérebros e corpos. É muita coragem se lançar um livro de poemas no mundo utilitarista em que vivemos, a poesia sempre soará como ruído incompreensível aos ouvidos dos que só ouvem com prazer o tilintar das moedas. A poesia não é e nem deve ser salvacionista, mas poderá ser redentora à medida que é ainda a única coisa que resiste a ter um valor monetário.
Hoje vi um poema ser dançado ao som de atabaque, pau de chuva, e todo o som que não ouvimos, mas que está presente, o som do acaso. Além de é claro, o som da voz humana, o primeiro e primordial instrumento musical. A professora e dançarina Kiusam de Oliveira deu corporeidade a um poema, ao mesmo tempo que chama Neres de homem-água, pede proteção a Oxum, a mãe das águas, exorta o feminino que essa água quer dizer. A poesia é o feminino das águas torrenciais que existe na poética de José Geraldo Neres, que poderia ser homem-chuva, homem-rio (e todas as suas margens), homem-barro (e seus tijolos e potes), pois o barro é a mistura da terra fértil com a água imprescindível.
Esta mesma Kiusam, dá um depoimento de uma situação de catarse, a partir do exercício de leitura com seus alunos, fala da palavra empoderamento, cunhada tão sabiamente por Paulo Freire, da possibilidade do poema fazer pessoas em situação de baixa auto-estima, se libertarem das suas amarras corporais e mentais, e se verem como realmente são, seres humanos. Ai se dá a maior glória de um poeta, a de ser alijado da propriedade de seu trabalho, é quando o leitor se espelha em sua obra, leitor que passa a ser também Narciso que se espreita.
A partir de hoje Rádi Oliveira, poeta de Diadema, passou a ter uma voz, quem eu só conhecia pela escrita, criou corporeidade em uma voz suave e acolhedora. Rádi cantou um poema de Castro Alves, “Oh! Bendito o que semeia livros”, que nunca imaginei tão melodioso. Nunca mais lerei este poema sem me vir a afável melodia. Para dar provas de que cada verso da poesia de Neres é já em si um poema, o ator Carlos Lotto fez um exercício, de copiar vários primeiros versos, que lidos juntos formaram um novo e inédito poema.
Voltei para casa com uma boa sensação. A incomum sensação de que é válido este exercício permanente de se limar contra o verso. De que somos diamante a ser lapidado. Pérola que se cria na ostra incomodada pela palavra.
2 comentários:
meu amigo dom edson. não sei oquedizer.precisa?
como gostaria de poder está neste lançamento
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