quinta-feira, 2 de julho de 2009

Claustrofobia e suicídio.














Às vezes tenho que fugir de casa, corre pelas veias um desejo de sumir no mundo, a casa me sufoca, começa a me esmagar por dentro. Tenho uma porta estratégica na cozinha, para ficar no corredor sem o teto sobre a cabeça. Fico me imaginando se conseguir ficar mais velho (o que não pretendo), tornarei-me um daqueles cidadãos fujões, que perambulam por ai, e a família colocando cartazes nos postes, “velhinho de estimação perdido, criança doente”.


A casa nova, foi construída pensando em arejamento. Às vezes todo ar, não é suficiente. Em outros momentos vou para o quintal pequeno aos fundos da casa, onde contemplo as minguadas estrelas que conseguem furar o ar poluído de minha cidade. Fico na semi-escuridão ouvindo os insetos e a cidade como ruído de fundo, fumando um cigarro imaginário.

Minha claustrofobia é ontológica. Não acredito que haja espaço suficiente no mundo. Ainda escuto o uivo dos lobos, corro pelas pradarias nas noites escuras, e acordo assustado em uma casa que não reconheço imediatamente. Levo um tempo para que a realidade volte aos poucos, quando minha companheira me pergunta se está tudo bem.

No fundo é isso mesmo, só somos nós, o céu e as estrelas, nada de fato é importante o suficiente para nos apegarmos, nada durará para sempre, nem a nossa ilusória trajetória de vida, quiçá de poetas. Ao contabilizarmos as perdas e ganhos, percebemos que podemos viver com tão pouco que poderíamos imitar o velho rabugento Diógenes em sua barrica. Faltariam barricas no entanto. A filosofia e a poesia enriqueceriam a medida que todos ficássemos mais pobres. Que ilusão! Neste momento tenho em minha frente uma tela de LCD que tem de ser paga, um computador ruidoso que se calará se cortarem a eletricidade. Fora que tenho horror de ficar sem banheiro e sem papel higiênico. De todas as benesses da civilização, chuveiro de água quente e corrente, privada com descarga e papel higiênico, são confortos muito difíceis de se desapegar. Mas para nós que já vivemos sem estes confortos um dia, é uma questão de renúncia e adaptação. Vivemos em uma espécie de impasse, uma roleta mexicana, onde se um atirar todos morrem.

Li um artigo no Pavazine( http://pavablog.blogspot.com/2009/06/chico-d2.html), sobre suicídio, números tão alarmantes que a imprensa mundial não fala do assunto - “Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que cerca de 3.000 pessoas por dia cometem suicídio no mundo. Traduzindo, a cada três segundos alguém se mata.” – acomodar-se é de uma maneira algo semelhante ao suicídio, ou não. Vivemos em um mundo de alta competitividade, onde a continuar no ritmo que está, se não encontrarmos alternativas sustentáveis, o próprio planeta não suporta. De alguma maneira a própria humanidade em sua corrida desenfreada não deixa de ser suicida. A cultura da sociedade de consumo rotula e classifica as pessoas pelos seus sucessos e fracassos, coisas que são muito relativas. No fundo mesmo, queremos todos ser abraçados pela grande mãe terra, nos acomodarmos no não movimento e nos deixar ficar confortáveis.


Só não conseguiremos fugir de nós mesmos. Nosso karma está grudado em nossa pele, e se o arrancarmos sairá tudo junto. Por uma questão política e filosófica, não acredito em destino, mas existem coisas que não são totalmente explicadas. Por que este desejo pelo belo, esta coisa que nos faz avançar em terreno escuro e movediço, quando poderíamos simplesmente nos acomodar confortavelmente? Por que quanto mais fugimos de certos acontecimentos, estes teimam em nos procurar? Já não sou mais dono das palavras, a poesia me usa, e me castiga na medida das minhas incapacidades. Tenho um compromisso com o seu desenvolvimento permanente. Porque faço poesia em tempos de penúria, não sei se tenho ou terei a resposta.



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