quinta-feira, 23 de julho de 2009

Teatro versus poesia.

Estou reciclando um crônica que escrevi por ocasião da Oficina - Poéticas da Oralidade ( muitas saudades) na Escola Livre de Literatura de Santo André, uma vez que surgiu uma conversa semelhante na reunião do dia 8 de julho da Biblioteca Municipal de Mauá, sobre a insistência de algumas pessoas em afirmar que o Teatro engloba todas as linguagens artísticas, com o que não concordo.



Teatro versus poesia.

"A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura nos importa."
(Roland Barthes)

“Pois me esculpi
Da carne de teu coração”
Else Lasker- Schüler

Existem questões que nunca serão resolvidas, uma delas é eterna discussão entre poetas e dramaturgos. Duas modalidades que usam a palavra escrita como ferramenta e linguagem e que por falta de classificação própria estão, digamos assim, incluídas na literatura. A construção do roteiro de um filme e ou a escritura de uma peça de teatro sempre tem que se ater a exeqüibilidade da ação dos atores, dos figurinos, do espaço cênico, da angulação da câmera, além de que o texto tem sempre um intermediário entre o autor e o público, o ator. A poesia não obedece regra alguma, sua construção é quase sempre anárquica, quanto mais o poeta se liberta de regras específicas, mais coerente com o poético fica o poema. O poeta e o dramaturgo querem chegar ao mesmo lugar, mas seus caminhos são diferentes, se uma peça de teatro obedece a uma certa lógica, o poema pela proximidade excessiva com a poesia, é tomado pela analogia, sua linguagem é uma conversa com o subconsciente e nem sempre o poeta é dono do seu texto, o poema tem uma linguagem própria, que visitará os meandros da incoerência. O dramaturgo mesmo eivado da poesia, terá que domá-la, formatá-la ao tempo da peça, a obra lhe toma mais tempo e exige um trabalho de carpintaria, existe uma luta permanente em capturar a poesia, dar-lhe forma e não matá-la. O dramaturgo caminha na beira do abismo, o poeta mergulha nele.

Na avaliação do sarau de Todas as Fomes (20/05/2006), talvez o que se estabeleça é um pouco da discussão das linhas teatro versus poesia, o diretor de teatro entende que o público tem que ser respeitado, o que está absolutamente correto, onde o poeta acredita que o público deva se preparar para a individuação que se estabelece quando se lida com a poesia. O estado poético implica em determinados estados de espírito, mas ninguém é obrigado a entrar para a religião da poesia. Atuar exige preparação e conhecimento, poetar exige contato com seu próprio âmago, naquilo que o ator é muito bom, que é o transito entre o transe e a ação, o poeta é deficiente em sair de seu próprio transe. Como não existe nenhuma verdade absoluta e entre uma maneira de ver e a outra existem diversas gradações, o que precisamos encontrar é um botão de sintonia fina, um dial para regular o possível, nossa necessidade e nosso sonhar. Devemos nos desvestir de nossas vaidades, e no processo da humildade, salvar o público dos poetas, para que o sarau não se torne chato e maçante e impedir que os diretores de teatro não dominem a cena não o tornando um grande espetáculo, com muita ordem, profissionalismo e coerência, fazendo com que a poesia fuja pela porta dos fundos.

Dois fatos se determinaram dignos de nota nesta segunda-feira fria e garoenta, a invasão ruidosa de um doido ( o que não é necessariamente problema) que queria por toda a lei monopolizar a atenção ( isto é um problema) e a maneira firme e decidida com que a Mônica resolveu o problema. Entrar em uma festa sem ter convite, ser bem recebido e ainda assim não respeitar o ambiente, a porta da saída é o seu caminho natural. Outra é a determinação do Carlos que não me convidaria para participar de seu grupo de teatro, ganhei o meu dia, não tenho a pretensão de fazer parte de um grupo de teatro, nada contra as pessoas que atuam nesta área, mas para o bem do próprio teatro o ideal que continue a minha pessoa a só fazer mal à poesia.

Poéticas da Oralidade - Casa da Palavra – 22/05/2006 – E.L.L - Ano 3

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