sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Mitzrael, Diogo “ ANDAR PELAS CALÇADAS DO INÚTIL” Editora Virtual Books – Pará de Minas – MG – 2009
Mitzrael, Diogo “ ANDAR PELAS CALÇADAS DO INÚTIL” Editora Virtual Books – Pará de Minas – MG – 2009
Algumas considerações para o autor.
Caro Diogo,
Não se pode perder o senso crítico nunca, mas tampouco devemos ser censores de nós mesmos, é um difícil exercício de equilíbrio. Um primeiro livro sempre contém irregularidades, muitas vezes fazemos uma raspagem de tudo o que temos escrito por anos, e colocamos tudo sem muito critério, há uma certa ansiedade por fazê-lo. Existe também uma tendência muito normal em nossos primeiros escritos, de serem por demais confessionais, de girarem muito em torno do próprio umbigo, talvez por características das circunstâncias da poesia moderna, que está baseada demasiadamente no derramamento do “eu”. Este é um perigo por qual todos passamos e que sempre pode acontecer. Mas mesmo o auto referenciamento pode se tornar um bom tema e ferramenta do poema. Temos é que tomar o cuidado de não cair em um círculo vicioso, e ficarmos irremediavelmente presos na primeira pessoa do singular.
Descobri a duras penas, que fazer um livro, é a arte de ser cruel com nossos versos, um poema deve ser publicado pela sua literalidade, e não porque gostamos dele ou nutrimos simpatias; temos que pensar como leitor e imaginarmo-nos lendo os poemas como se pela primeira vez ou como um desconhecido, sem se dar de intimidades com o poema, não antes de conhecê-lo melhor. Como fazer isso sem se trair ou se sentir traído por si mesmo? Bem, isto já é um outro exercício.
Você me falou para apontar seus erros, sinceramente, não acredito que existam erros e acertos, bem e mal, e assim por diante. A vida não tem lógica ou sentido, e quase sempre quando acertamos é por acaso, por que esperar algo diferente da poesia? O livro tem poemas que não deveriam ser publicados, mas isto é minha opinião e visão unilateral, e o que faz um livro ser uma obra autoral é a sua escolha pessoal. Um livro com poemas que eu escolhesse seria o meu livro e não o seu. No livro encontrei trabalhos muito bons, alguns poemas belíssimos, como “VIOLINO”, “LADRÃO”, “THE WALL”, entre outros, que já mostram grande maturidade e cuidado, percebe-se neles o trabalho de carpintaria, não caindo no mito do poeta pronto e completo, que não pode mexer nos primeiros esboços para que “não percam a autenticidade”. Escrever é estar preparado para retrabalhar mais arduamente do que criar. Outro detalhe perceptível é que existe uma boa leitura por parte do autor, pois não existe criação de poesia sem leitura de poesia.
Os títulos dos poemas são uma história a parte, dar nomes a uma obra, poema, gravura, tela, é algo por demais complexo, pessoalmente tenho grande dificuldade com isso. Outra questão importante é a presença de humor em vários trabalhos, há uma riqueza de trocadilhos e uso de imagens lúdicas. O poeta e amigo Cláudio Willer diz que a presença de humor é bom para o poema e para a literatura. Importante, um humor que não cai na pieguice, na necessidade de agradar, é uma armadilha fatal para quem quer ser engraçado, mas deixa a inteligência de lado, não é o seu caso.
O livro tem um defeito imperdoável, não tem uma apresentação, mesmo um prólogo com suas intenções, ou a falta delas, tirando o exemplo baudeleriano do poema “DUCHAMP ME”, que serve como uma espécie de abertura, não há mais nada. Além da ausência total dos dados do autor, não temos como saber pelo livro quem você é, qual idade, por onde perambulou, e em tempos de Internet, um e-mail para contato, para que os possíveis leitores troquem impressões.
Não caia na balela do anonimato, da não importância do autor na obra, etc. Saber quem escreve facilita para quem lê, para a compreensão de certos filigranas e detalhes, que em determinadas condições podem passam desapercebidos. Além do que, o livro é seu melhor cartão de visitas, sua apresentação ao mundo, e, acredite, de uma longevidade assustadora. Livros passam de mão em mão, um único livro pode atingir mais leitores do que podemos nos dar conta. Não caia em falsa modéstia ou timidez, artistas não podem se dar a este luxo.
E por fim, nunca renegue este seu primeiro livro, que é muito comum em certos autores moderninhos e modernosos, isto é ridículo, somos o conjunto de tudo o que fazemos, para “além do bem e do mal”, a irregularidade e o erro são bênçãos, são a maior vacina para não nos tornarmos literatos chatos e auto referenciados.
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