quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Do preconceito social (ou eu não poderia me silenciar).



Mosaico de "Cuidado com o cão" em Pompéia, século I a.C.



Edson Bueno de Camargo

Tenho visto manifestações de ódio racial, preconceito social e xenofobia nos meios de comunicação de massa desde a campanha eleitoral de 2002 e da consequente eleição e posse do Presidente Lula em 2003. Não sei porque o espanto e o clima de novidade agora. O ódio declarado e o patrulhamento a tudo o que cheirasse levemente a esquerda  era tanto, que bastava um post  ou comentário em qualquer lugar da Internet ou  em uma notícia que logo vinham as respostas furiosas. Lembro do fato de minha companheira escrever um artigo sobre a Lei federal nº 10.639,  no CMI – Centro de Mídia Independente, e quase imediatamente ao seu upload, um cidadão desferiu um comentário racista contra a uso de cotas nas universidades. (E tem de haver cotas sim!) Acontece que o artigo sequer mencionava as cotas, tratava-se de um artigo sobre educação e a aplicação da Lei. Em outra ocasião um cidadão travestido e pintado de palhaço atravessou uma conversa minha e de um amigo no Facebook, me disse tantos impropérios que acabei por apagar as mensagens pois não estava com saco para processá-lo.  (E não me passou pela cachola fazer um blog de denuncias, que droga! Agora se perdeu a originalidade.)

Muitas vezes o anonimato tem gerado ataques virulentos, assédio moral a blogueiros, e todo o tipo de violência verbal. Conheço poucas pessoas que não moderem seus blogs de opinião,  com medo de ataques. Muito pouco se fez e faz para resguardar a integridade moral das pessoas. As questões jurídicas ligadas à Internet são coisa muito nova, até para advogados e magistrados. As Leis tem de ser adaptadas, outras ainda proferidas.

Depois de oito anos de guerra midiática e guerrilha na Internet, finalizando com uma campanha eleitoral baseada no TEA Party americano, algumas coisas se afloraram além da conta. Muitos monstros despertaram de seu limbo.

Ferramenta interessante, o Twitter, por sua capacidade de mobilização, maior que qualquer mídia social que tenha aparecido, como tudo tem lá seus problemas, a velocidade do micro-blog tem ocasionado situações muito sui generis. Os escondidos se afloraram, esquecidos que somos uma democracia e um estado de direito, sendo o racismo declarado um crime. A fúria contra os nordestinos na verdade é algo com raízes mais profundas, vem do tempo da formação histórica de nosso país. A escravidão durou muito e muito além do que deveria, fincou raízes em nossas almas, o Brasil ainda pensa escravista. A raiva não é contra os nordestinos, é contra o que estas pessoas acreditam serem os pobres, os socialmente inferiores, que não deveriam ultrapassar a linha invisível das castas. para estas pessoas deve ter sido insuportável aguentar a ideia de um presidente de origem humilde e operário. “Como um ousou sair da senzala e entrar nos salões?” “Como o governo deixou de servir de alento às elites e passou a ser um colchão social e econômico dos menos favorecidos?” Afinal de contas são eles que pagam os impostos para terem um estado para eles e os degredados da nação que se contentem com seus guetos,  pois para estas pessoas, Estado para pobre é polícia.

Muita coisa tem de ser feita, muita coisa tem de ser mudada e melhorada, mas os últimos oito anos foram a coisa mais próxima de um governo popular que tivemos. Não é o governo de meus sonhos, até porque em meus sonhos as pessoas se tornarão tão responsáveis, que não necessitaremos mais de governos. Até lá, melhor ter um socialismo na mão do que um anarquismo voando. 

Um comentário:

Pablo Treuffar disse...

Parabéns por mais uma composição maravilhosa, concordo 100%. Abço