quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Tamanha felicidade.



Aconteceu de haver um período dramático de minha vida, o trabalho era terrível, com complicações e decisões que colocaram em teste toda a minha ética. Sofri forte assédio moral. Descobri que não se pode lutar contra a irracionalidade, e o fracasso nos constrói tanto quanto a vitória. Nietzsche diz, “aquilo que não nos mata, nos fortalece”. Por fim  sai quase  inteiro, e feridas de batalha são para serem mostradas e não escondidas.

Apesar de tudo, foi um momento em que trabalhei muito perto de minha casa.

Havia algo de agradável em se trabalhar assim tão próximo, é o fato que ia caminhando logo cedo, a observar o movimento dos pássaros nas árvores e dos cães vadios soltos nas ruas. Fiz muitos poemas neste trajeto, fiz muitas reflexões, e na maior parte do tempo não pensava absolutamente em nada.

Caminhava lento e preguiçosamente. Não tinha nenhuma pressa de adentrar no inferno.

Foram alguns anos de minha vida. Quantas vezes me quedei a observar uma ave a construir um ninho, depois os filhotes em primeira lição de voo. Pardais tomando banho de areia e ou em poças de água após a chuva. Os quero-quero patrulhando o gramado em frente a prefeitura a comer insetos e atacar qualquer atrevido que se aproximasse de seus ninhos. O poeta Jorge de Barros que o diga. (Depois construíram o prédio da Câmara, desalojando os bichos.)

Mas o dia mais especial se deu por conta de um cão SRD que se divertia no gramado em frente ao Fórum. Alheio ao mundo que o rodeava, às mazelas da fome, ao abandono do dono, à minha espionagem inoportuna. O cão se espojava na grama transbordando felicidade. Entregue a um exercício de puro hedonismo. Olhei aquela cena por longos minutos.

Fui embora certo que nunca encontrarei em mim tamanha felicidade. 




(Exercício de criação 7 blog Gambiarra Literária)

http://gambiarraliteraria.blogspot.com/2010/11/exercicio-de-criacao-7.html


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