segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Acidente literário – Perfume que lembra incenso, inunda trólebus lotado com o cheiro, e inebria poeta que escreve mais um poema inútil.


Exercício de criação 8


Acidente literário – Perfume que lembra incenso, inunda trolebus lotado com o cheiro, e inebria poeta que escreve mais um poema inútil.

Título:  Perfume com cheiro que se assemelha a incenso (totalmente desconhecido).
Local:  A bordo do trólebus linha 284 que faz a ligação Santo André - Diadema, Sentido Santo André, em uma das paradas da Avenida Lucas Nogueira Garcez, em frente ao pavilhão Vera - Cruz, São Bernardo do Campo.

Data: Em uma manhã entre fevereiro e março de 2007, não é possível uma precisão da data, uma vez que a testemunha do fato e também um dos protagonistas, tem problemas com memória e memorização de efemérides (já esqueceu o dia do próprio aniversário, e quase deu bolo na festa.)

Protagonistas: Um poeta de meia idade totalmente fracassado (e logo após uma entrevista frustrada de trabalho), o motorista do trólebus (pois senão este se desgovernaria), algo em torno de 89 passageiros ou mais, entre sentado e em pé, mulheres, homens, crianças, idosos, jovens, um casal gay não assumido, uma jovem com perfume que lembrava incenso (nunca foi identificada).

Tipo: Estimulação poética através do cheiro de um perfume, fato que gerou os primeiros versos de um poema.


Descrição do Acidente Literário:
Uma manhã, já quase na hora do almoço, um poeta de meia idade, ruminando seu mais recente fracasso, estava em estado de divagação, quando entrou no trolebus lotado uma mulher (não se sabe porque intui-se que fosse uma jovem).  A tal jovem usava um perfume que lembrava o cheiro de incenso,  que inundou momentaneamente a rotina proletária e sem sentido da vida das pessoas naquele veículo. A maior parte dos passageiros e motorista, dado ao seu treinamento de esquecimentos, logo incorporou a informação aos subconscientes e esqueceu imediatamente. O poeta passado dos quarenta anos e sem emprego definido, sofreu um processo de necessidade de criação escrita, descrito por alguns autores e cientistas como “estado poético” (outros autores denominam pasmaceira mesmo). Acometido de tal estado poético, o escrevinhador contumaz pegou seu pequeno caderno reservado especialmente para estes momentos e escreveu os versos “ mulheres que cheiram a incenso, não carregam cântaros de água nos cabelos”.  Não foi possível distinguir entre os passageiros do coletivo lotado, qual jovem emitia tal odor. Posteriormente já em sua residência, o poeta desfilou mais uma porção de palavras, que a todas juntas colocou o título cabalísticos. ( Este poema lhe rendeu um premiação em concurso literário e mote para a escrita de mais um livro de poemas que será lido apenas por uma meia dúzia de pessoas).

Recolhido por: Poeta de meia idade divagando em um trolebus. 
 
 
Exercício literário número 8, proposto pelo blog Gambiarra Literária, baseado em conto do poeta Jorge de Barros. Notificação de Acidente Literário:  
http://ooficiodoocio.blogspot.com/2010/11/notificacao-de-acidente-literario.html


Gambiarra Literária - Pratique Gambiarra Literária - O exercício faz o artífice.
http://gambiarraliteraria.blogspot.com/2010/11/exercicio-de-criacao-8.html

2 comentários:

Edson Bueno de Camargo disse...

Acidente Literário. s.m.
Também conhecido como "Acidente Poético", trata-se de ação involuntária envolvendo, geralmente, palavras, cuja polissemia e expressividade artística ultrapassam o mero uso cotidiano.

Edson Bueno de Camargo disse...

Só agora que me dei conta que um de meus poemas mais emblemáticos, "cabalísticos", e título de meu quarto livro foi concebido em São Bernardo do Campo, cidade em que ganhei um prêmio literário, sincronismo ou acaso objetivo?